Ano 01 nº 16/ 2020: Perguntas de Primeiro de Maio; Fernando Ferreira; Coluna Jandira Silva; 01 de Maio

Boletim 16


Coluna socialista...

"'Olhar para a realidade cada vez mais latente...' Nessa pandemia, nessa quarentena, é uma reflexão constante... Como em volta da minha comunidade tem 6 favelas e cada um dos meus alunos mora em uma delas, então, depois da retomada, levantar questões para discutir o que queremos e o que esperamos e como podemos contribuir para uma sociedade melhor. Pensar em uma visão crítica e o estudo da economia, da geopolítica que vivemos. Como contribuir de fato, fazer um trabalho de campo, que não é fácil, demanda, é difícil, mas temos que sonhar e acreditar que vamos sair dessa pandemia melhores do que entramos."

 

Jandira R. P da Silva, 72 anos, professora de MOVA.


A conjuntura ...

 

PERGUNTAS DE PRIMEIRO DE MAIO

 

Fernando Sarti Ferreira

Doutorando em História Econômica - USP

O peronismo inaugurou o movimento populista na América Latina? É ele o exemplo de "maior sucesso", por perdurar até hoje como uma força política?

O justicialismo (ou peronismo) foi um dos muitos movimentos políticos surgidos na América Latina a partir da crise das economias agrícolas e mineradoras exportadoras, que se formaram ou se robusteceram na região durante a segunda metade do século XIX. É possível encontrar paralelos e similitudes entre o peronismo e outros governos e movimentos políticos entre 1930 e 1945 na região, como no caso dos governos de Getúlio Vargas no Brasil (1930-1945) e Lázaro Cárdenas no México (1934-1940). Contudo, isso não significou a constituição de um movimento unificado no continente. Foram governos que, a partir das especificidades econômicas, políticas e culturais da região, em maior ou menor grau, de maneira mais ou menos radical, expressaram uma reacomodação das classes sociais, cujos lugares ocupados até então foram duramente perturbados após a crise mundial de 1929.

Neste sentido, o “populismo” latino-americano da década de 1930 e 1940, também guarda muitas semelhanças com os países que adotaram medidas de corte keynesiano para sair da crise - como o próprio governo Roosevelt nos EUA ou de Hitler na Alemanha. Essa reorganização na América Latina foi marcada pela maior intervenção do Estado na economia e uma política mais ou menos consciente de industrialização por substituição de importações e de nacionalização de setores da economia, controlados até então por corporações estrangeiras. Se foram governos que não romperam com a secular violência estatal e o autoritarismo tão característicos da região, por outro lado, incorporam e institucionalizaram muitos setores das classes trabalhadoras e subalternas, elaborando leis trabalhistas e canais de mediação para os conflitos entre o capital e o trabalho. Muitos intelectuais tentaram aproximar estes governos por meio do conceito de “populismo”, à grosso modo, entendendo as políticas propostas por Perón, Vargas e Cárdenas como meros instrumentos para a manipulação da classe trabalhadora e de setores subalternos a favor de projetos personalistas de poder.

vargas

A perenidade do justicialismo é um fenômeno extremamente complexo, mas, de maneira geral, é possível afirmar que sua persistência se deve ao fato do movimento ainda ser um referencial para importantes setores da sociedade argentina – como a classe trabalhadora e os defensores de políticas públicas distributivistas e inclusivas. Por outro lado, isso não significa que o trabalhismo de Vargas ou o cardenismo não tenham apenas sobrevivido, mas também se transformado.

O aprofundamento das políticas distributivistas, os aumentos sustentados do salário mínimo e uma sorte de nacionalismo econômico característicos dos governos do PT, guardam relação com as políticas trabalhistas e com a concepção de Getúlio Vargas de que a melhora da situação material dos trabalhadores seria fundamental para o desenvolvimento econômico centrado na expansão da demanda efetiva do mercado interno, além de servir para a maior estabilidade política.

No caso do México, devemos recordar que Andrés Manuel López Obrador surgiu de uma dissidência do PRI, liderada por Cuauhtémoc Lázaros Cardenas, filho do antigo presidente, e que se opunha ao giro neoliberal que o partido realizou nos anos 1980.

Muito se fala em Vargas e até Lula. Quais os pontos de encontro e desencontro do peronismo com esses líderes brasileiros?

Lula é uma liderança oriunda das classes populares, um filho da classe trabalhadora e dos setores subalternos do Brasil, moldado politicamente no campo da esquerda democrática. Vargas era um latifundiário, um caudilho, filho de uma família aristocrática. Perón era um militar de carreira, proveniente de uma classe média alta acomodada. As diferentes circunstâncias históricas os aproximaram, como líderes de movimentos políticos populares, marcados pela defesa de políticas distributivistas, da ampliação de direitos sociais e econômicos, como peças fundamentais para organização de uma economia nacional moderna e industrial. Foram figuras que acreditaram ser possível aproximar suas sociedades aos patamares de consumo e bem-estar dos países centrais. Também acreditaram que este projeto era possível sem rupturas, e em nome desse objetivo, chegaram a defenestrar antigos aliados, atacar suas bases e os setores mais radicais que porventura poderiam ser possíveis aliados. O resultado para os três foi desastroso. Frente a qualquer sinal de crise que pudesse desestabilizar a acomodação das classes construídas por seus governos, as elites se livraram deles.

soco


Memória operária...

 

01 de Maio, dia dos trabalhadores, um dia de luta.

 

Ergue da noite, clandestino

À luz do dia à felicidade

Que o novo sol vai nascendo

Em nossas vozes vai crescendo

Um novo hino à liberdade! [2x]

 

Avante, camarada, avante

Junta a tua à nossa voz

Avante, camarada, avante camarada

E o sol brilhará para todos nós!

 

Cerrem os punhos, companheiros

Já vai tombando a muralha

Libertemos sem demora

Os companheiros da masmorra

Heróis supremos da batalha! [2x]

 

Avante, camarada, avante

Junta a tua à nossa voz

Avante, camarada, avante camarada

E o sol brilhará para todos nós!

 

Para um novo alvorecer

Junta-te à nós, companheira

Que comigo vais levar

A cada canto, a cada lar

A nossa rubra bandeira! [2x]

 

Avante, camarada, avante

Junta a tua à nossa voz

Avante, camarada, avante camarada

bandera-roja

E o sol brilhará para todos nós!

Compositor: Luis Cilia

https://www.youtube.com/watch?v=SmUb14DxV14

 


Expediente

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