Ano 01 nº 02/ 2020: Do canhão à Peste - Frederico Bartz

MARIA ANTONIA

EM QUARENTENA

Boletim do GMARX-USP | São Paulo | Ano 1 nº 02 | Março 2020

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A conjuntura...

Do canhão à peste: até que os operários tenham consciência de si próprios

 

Frederico Duarte Bartz

Doutor em História e Técnico em Assuntos Educacionais – UFRGS

 

"A colera, que ora campeia os lares, victimando com mais promptidão a classe obreira - de preferência as classes abastadas, sendo producto immediato da guerra, a colera, (que ora chamam hespanhola) não podia escolher senão os que a força do destino determinar; isto é, os operários".

Assim se inicia o manifesto de fundação da União Maximalista de Porto Alegre, escrito por Abílio de Nequete, em novembro de 1918. O grupo maximalista foi um dos primeiros grupos comunistas do Brasil e se formou a partir de uma conjuntura muito difícil para a classe trabalhadora, em que os mais pobres e explorados, além das consequências econômicas da Guerra, também se transformaram em vítimas preferenciais da Gripe Espanhola, que ceifou milhões de vidas ao redor do mundo.

 

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Abílio de Nequete (Revista Máscara, setembro de 1919)

Assim como a atual pandemia, a Gripe de 1918 atingia com maior letalidade aqueles que tinham a saúde mais frágil. Os operários e as operárias se expunham diariamente aos riscos de contaminação, viviam em péssimas condições sanitárias, tinham pouco acesso à informações e ao atendimento médico, tornando-se, dessa forma, vítimas preferenciais da doença. Cabia ao movimento operário fazer as denúncias das péssimas condições em que vivia o proletariado, além de montar redes de apoio mútuo entre os mais pobres.

Ao final do manifesto, Nequete encerra seu texto com uma frase que reverbera ainda em nosso tempo, marcado por ataques generalizados contra a classe trabalhadora e pela necessidade de solidariedade entre todos aqueles que vivem do trabalho: "Tende pois consciência de vós mesmos".

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Manifesto da União Maximalista (Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul)