Ano 6 nº 10/2025: Memória operária - Nota de homenagem a Vera Cotrim; A vida cotidiana em Moscou nos anos 1960 - Lenina Pomeranz

ano6-10

Memória operária...

NOTA DE HOMENAGEM DO GMARX USP À

VERA COTRIM

O GMarx está consternado com a notícia do falecimento da querida Vera Cotrim, nossa companheira de lutas e amiga de tanto tempo. A Vera foi participante ativa dos nossos ciclos de estudos e entusiasta das nossas polêmicas marxistas desde a fundação do grupo, em 2009, até aproximadamente 2016. Ela marcou a trajetória de formação política e teórica de muitas gerações de estudantes e pesquisadores do GMarx. Sempre foi uma ótima companheira do festivo pós-reunião, quando prosseguíamos nossos acalorados debates no Clube da Máfia, uma pizzaria no Bom Retiro.

A Vera politizou e fortaleceu as mulheres do GMarx em iniciativas feministas de estudos teóricos, organização política e elaboração prática. Incentivou no grupo a concepção do feminismo como luta política de todos, homens e mulheres, num tempo em que isso ainda não era tão evidente como é hoje. A Vera marcou a história do GMarx e marcou a história do marxismo como prática social.

Ela era combativa sem perder a ternura. Rigorosa no pensamento e na filosofia marxista, sem perder a alegria. Precisa nos combates teóricos e políticos, sem perder o humor.

Vera era filósofa, doutora em História Econômica pela USP e professora do Cefet MG. Escreveu a obra "Trabalho Produtivo em Marx".

O GMarx deixa um abraço solidário à família e aos amigos da Vera.

GMarx, 06/10/2025

 

Vera - por Ciro Yoshiyasse

Raro encontrar uma pessoa inteira
vemos elas mesmo
aos pedaços
numa réstia da luz do sofrer
Numa fome de tudo perdida
num post logo apagado
É raro

Mas não a Vera
Inteira ela era

É evidente
ontologicamente
Quem pensa fora da caixa
vive fora dela
Quem busca a verdade
exercita até se tornar
Vera

Saudades de conversas inteiras
que eu não entedia a metade
de gente fazendo história fora da aula
sem medo ou pudor
sem patriarcado
Inteira
Vermelha
Vera

 


Memória operária...

A VIDA COTIDIANA EM MOSCOU NOS ANOS 1960

 

Lenina Pomeranz

Professora FEA-USP

Leningrado em 1960

Eliseevsky in Leningrad, 1960s Vsevolod Tarasevich/MAMM/MDF/russiainphoto.ru

Fonte: https://www.gw2ru.com/russian-kitchen/2443-soviet-food-grocery-stores

 

Convidada pelo professor Lincoln Secco da disciplina de História Contemporânea na USP a fazer uma palestra sobre o meu livro Do socialismo soviético ao capitalismo russo, adotei a premissa de apresentá-lo brevemente e me dispor a responder a perguntas de interesse dos alunos sobre o seu conteúdo.

Alguns dos alunos já o tinham lido. A maioria lá estava, porém, para ouvir-me falar sobre esse conteúdo. Entrementes, essa mesma maioria preferiu uma abordagem menos acadêmica, mais solta, sobre a vida cotidiana em Moscou, sabendo que eu lá vivi durante alguns anos no início dos anos 1960.   Tentei, então, descrever aspectos dessa vida:  o Instituto Plejanov, para onde foi destinada a minha bolsa; a casa de estudantes onde morei os primeiros ano e meio;  a casa de banhos que utilizei, por falta de chuveiro ou outra instalação na moradia; a grande piscina redonda a céu aberto que passei a utilizar como alternativa enquanto praticava  a natação;   a vivência e a camaradagem com minha professora de língua russa;  a vivência com a companheira de quarto; e minha mudança para o apartamento que me foi cedido por uma pessoa maravilhosa e as circunstâncias que cercaram essa mudança. Emocionei-me ao lembrar dela e dessas circunstâncias e considerei serem o exemplo vivo da chamada Alma Russa.  Não acrescentei outros aspectos mais detalhados, mas menos importantes dessa vivência, por conta das limitações que são impostas a um texto como este.

Por falar livremente, sem qualquer roteiro ex-ante preparado, ao chegar em casa, dei-me conta de ter deixado de falar aos alunos de elementos da minha vida cotidiana deveras importantes. Daí a decisão de preparar este texto.

O primeiro ano e meio[1]

 

Cheguei a Moscou em medos de fevereiro de 1961, vinda de Varsóvia para onde fui com a bolsa recebida da Comissão Econômica do Leste Europeu da ONU, para um curso de planejamento econômico promovido por essa comissão e a SGPIS, Escola Superior de Planejamento e Estatística da Polônia. A duração do curso era de seis meses, quatro de aulas e dois para elaboração de um texto. Aproveitando a passagem por lá de um scholar russo altamente colocado na hierarquia soviética, convidado para a comemoração do término do período inicial dos quatro meses de aulas, Mikhail Kalecki, responsável por essa parte do curso, solicitou-lhe uma bolsa de dois meses para mim, destinada à coleta de material sobre o planejamento soviético, pioneiro nesta forma de administração da economia. Eu pretendia fazer meu doutorado em planejamento econômico, na minha volta ao Brasil.

Se já estivéssemos naquele então utilizando os nossos aparelhinhos digitais, eu talvez conseguisse explicar o que ocorreu posteriormente, com a concessão de uma bolsa para um curso de  quatro anos, de  formação de técnicos em planejamento, numa instituição acadêmica de nível universitário regular e que não dispunha de cursos de pós graduação. Ainda imaginei a possibilidade de corrigir o erro, solicitando uma transferência para uma instituição de pesquisa.  Mas ninguém, literalmente ninguém nesse entorno, podia ajudar-me, pois ninguém falava ou entendia bem sequer uma das sete línguas que falo (ou falava, pois quando não se fala uma língua por muito tempo, o seu conhecimento se esvai...). Desisti e resolvi encarar.  Fui ao gabinete do chefe da cadeira de Planejamento Econômico e me apresentei. Essa pessoa recebeu-me em pose ereta em sua poltrona e, quando lhe pedi que me orientasse na busca de material de pesquisa, respondeu-me, sem mover um nervo do seu rosto, que: “pesquisa de material é tarefa do aluno”.  O Instituto Plejanov de Planejamento da Economia Nacional, assim se chamava a instituição, deu-me uma professora de língua russa, para que conseguisse fazer “essa tarefa do aluno”.  Nina, não me lembro do sobrenome, dava-me três horas de aula de língua russa e mais uns exercícios para fazer em casa, de mais ou menos as mesmas três a cinco horas.  Com esse ritmo, em menos de três meses, eu já dominava a língua russa no nível que precisava para fazer a minha pesquisa sobre planejamento. Sobre Nina escreverei mais adiante, pois teve um papel gigante no meu conhecimento da “alma russa”.

O Instituto Plejanov tinha agregado um edifício que dispunha de acomodações para os estudantes de pós-graduação originários de outras localidades fora de Moscou a ele encaminhados, a chamada obchegitie.  Os quartos serviam para duas pessoas, que os trocavam a cada seis meses, podendo, entretanto, manter sua composição se os ocupantes da acomodação assim o desejassem.  Eu fiquei nesse edifício por cerca de ano e meio, sem trocar de companheira durante o último meio ano, por razões que os leitores entenderão, quando lerem a descrição dos acontecimentos que cercaram a minha convivência com Sveta, essa companheira. 

 Infelizmente, esse edifício não dispunha de chuveiro ou outra instalação que permitisse aos seus habitantes tomar banho. Minhas alternativas foram duas: i)  inicialmente buscar as casas de banho mais próximas,  que dispunham de um ambiente privativo no andar térreo, com um vestiário para a troca da roupa e um chuveiro; eu ia um pouco antes do horário de sua abertura, para garantir ser a primeira usuária do local,  e com isso, garantir que o local estivesse limpo; o andar superior era destinado a banhos de vapor, com grandes palmas verdes para  usar nas massagens das costas;  ii) posteriormente, quando a descobri, buscar a maravilhosa piscina central de Moscou, construída onde se situava anteriormente a Catedral da cidade; era uma piscina redonda  enorme, de água quente, com várias raias e sem cobertura; a água quente formava nuvens densas pouco acima do seu nível, assegurando a proteção necessária aos seus usuários durante o inverno. A entrada na piscina se fazia através de um deck de madeira que ia declinando à medida em que se passasse do vestiário para a água, através de uma passagem que evitava o contato do usuário com a temperatura fora dela.

O Instituto Plejanov ficava num velho convento, situado no meio de uma comprida alameda, que dava para duas ruas transversais - uma em cada ponta - e tinha entre suas instalações um restaurante universitário, uma sala de atendimento médico, e uma sala de atendimento administrativo mais geral aos estudantes, incluindo o de suas férias.   Mantinha, além do curso de planejamento, um curso de merceologia e um curso de comércio. Seus alunos eram quase todos originários das repúblicas soviéticas, exceção de um grupo de vietnamitas, um argentino, e eu.

O departamento ao qual era vinculado o curso de planejamento realizava reuniões semanais dos seus professores e dos alunos que estavam preparando suas teses, neste caso para discussão dessas teses e do avanço de sua elaboração.   Esta atividade era muito importante para os seus autores, pois, de certa forma, preparava os alunos candidatos ao mestrado (kandidat Nauk)/doutorado (doktor ) para sua defesa do título.  

Cabe aqui fazer um parágrafo para descrever o ritual seguido para obtenção desse título. 1. O candidato devia realizar provas em três disciplinas: uma de filosofia, basicamente marxista, uma relacionada ao tema de sua tese – por exemplo:  O planejamento econômico na República da Geórgia -, e uma de língua estrangeira à escolha do aluno. No meu caso, por ser estrangeira, o exame foi de língua russa.  2. O candidato devia preparar um resumo de sua tese e editar 300 exemplares dele para encaminhamento a instituições acadêmicas e sociais, cuja atividade fosse vinculada ao tema de sua tese. 3. O professor responsável pela disciplina fazia o convite a professores ou profissionais relacionados ao tema do candidato para a formação da banca, que incluía, além dele, dois convidados.  Terminados os trabalhos, os professores, mais os novos mestres/doutores, dirigiam-se a um local escolhido por eles para festejar a obtenção do título (em geral, suas instalações domiciliares eram exíguas ou indisponíveis, como no caso daqueles que viviam em apartamentos coletivos). No meu caso em particular, os festejos foram realizados no amplo apartamento de meus amigos Olga Enriques e..... Baeta.  (cabe informar que na URSS, os cientistas e pesquisadores possuíam status superior, e com isso, tinham direito a residências maiores).  Eu já tinha preparado os petiscos à moda brasileira: pequenos, diferentes dos sanduiches comuns em cafeterias dos teatros russos; e preparado as garrafas de whisky compradas numa loja muito badalada e bem sortida de tudo, situada no Centro da cidade. Dispensado dizer que o chefe da cátedra, convidado para o festejo, emborcou um atrás do outro, uns 4 cálices de conhaque da Geórgia, conhecido por sua qualidade e preço...

E eis me nova Kandidat Nauk (candidato a cientista), título reconhecido como de doutora pela USP, à minha volta ao Brasil. Cabe aqui uma referência e agradecimento ao meu ex-colega e grande amigo Prof. Roberto Macedo, que foi encarregado pela Faculdade de dar parecer sobre minha tese no processo de reconhecimento desse título pela USP, pela confiança depositada na tradução por mim feita de minha tese do russo para o português, contornando os custos altíssimos de uma tradução juramentada.

A volta ao Brasil tornou-se possível pelo relativo afrouxamento da ditadura em 1967, ano em que defendi a tese e obtive o meu diploma; mas demorou uns meses mais - era preciso que o mesmo fosse reconhecido pela embaixada brasileira em Moscou. À minha volta, no aeroporto em São Paulo, esperavam-me familiares e amigos. Fui liberada, depois que meu passaporte foi fotografado.

 

O meu relacionamento com Nina, minha professora de língua russa

 

Nina .... minha professora de língua russa, tornou-se uma de minhas grandes amizades na Rússia.  Mantínhamos longas conversas durante o decorrer das aulas; e depois de uma delas, Nina convidou-me para conhecer o seu apartamento. Ela morava no centro, perto do grande Circo de Moscou, no sexto andar de um edifício antigo sem elevador, com seu filho asmático de uns 10 anos de idade; se bem me lembro, num apartamento em que compartilhava cozinha, que quase não usava, pois se valia das estalovaias (restaurantes existentes em todos os locais com certo número de pessoas trabalhando) e o filho fazia as refeições na escola. O banheiro era compartilhado com habitantes dos demais cômodos. O quarto era arrumadíssimo, com as duas camas bem arranjadas dentro do espaço, e tinha um lindo aquário de peixes coloridos, cuja água era corrente porque ligada a um aparelho especial para esse fim. Se tivesse sido fotografado, poderia ser considerado a típica habitação russa. Em um dos verões, com o filho num acampamento do Komsomol (organização da juventude comunista para jovens), ela convidou-me para morar com ela.  Ficamos mais intimas em nossa amizade e ela contou-me passagens da sua vida. Serviu como motorista de ambulância durante a II Guerra Mundial e atendeu ao apelo de Khrushev para conquistar áreas virgens em territórios longínquos, onde recebia provisões uma vez por semana, trazidos por via aérea. Foi justamente nesse local que dividia com o marido e mais uma companheira, que se viu traída pelo relacionamento entre ambos, e decidiu separar-se do marido e voltar a Moscou imediatamente. Logo depois nascia o filho que eu conheci, vivendo com ela.

Ela era assim. Coerente com sua formação comunista, criticava muito os membros corruptos do governo e do funcionalismo.   Fiquei um pouco longe dela enquanto escrevia minha tese, ligando-me a pesquisadores do Instituto da Economia Mundial e das Relações Internacionais.

Voltando a Moscou, durante as pesquisas sobre a perestroika, não a encontrei mais. Talvez tenha sido presa, por sua rebeldia; ou morrido.  Senti muito não a ter revisto. E agora, ainda choro por ela.

 

Segundo período*

 

Início este período com a troca de companheira de quarto. Não me lembro de ter comentado anteriormente, que essa troca se dava regularmente a cada seis meses, mas com a possibilidade de continuar com a mesma pessoa por mais de um período. Pois bem. Por tudo que descreverei adiante, preferi não trocar e ficar com a mesma companheira.

Svetlana era ucraniana, tinha vindo a Moscou para fazer um pós doutorado em direito comercial internacional. Seu marido era judeu e a mãe dele costumava mandar para ela, grandes potes de doce de frutinhos típicos da Ucrânia esmagados no açúcar, que me deliciavam. Aos domingos, quando eu recebia o namorado para almoçar no nosso quarto, ela discretamente se mantinha fora até quase o final de tarde. Postura totalmente distinta de uma anterior companheira de quarto que eu detestei; pelo seu comportamento, facilmente identificável com o de alguém vinculado à burocracia interiorana; imaginei e não quis perguntar-lhe se seu marido ocupava alguma posição no aparato burocrático oficial da cidade de onde vinha.  Na primeira troca de companheira de quarto que se seguiu à dela, tratei de me livrar da figura...

Pois bem, o convívio com Sveta, diminutivo carinhoso, foi maravilhoso. Fazíamos nosso alongamento matutino e a higiene pessoal no nosso quarto. Para isso tínhamos uma bacia esmaltada cada uma e uma chaleira, que colocávamos no fogão da cozinha coletiva com água para ferver, enquanto fazíamos nosso alongamento no quarto. Em seguida, já arrumadas, fazíamos a refeição da manhã, com ingredientes comprados por nós e colocados no peitoril da dupla janela do quarto, que servia de geladeira. Esse tipo de janela servia para proteção do frio na época do final do outono e no inverno, ao mesmo tempo que mantinha frescos os produtos de alimentação durante o ano inteiro.

E.. sair para as nossas atividades. Aos finais de semana, Sveta organizava nossas excursões. Tomávamos o nosso “trenzinho da Cantareira” russo e íamos por aí. Assim foi com a visita a um Seminário de padres ortodoxos, que dispunha, além do edifício de aprendizado, uma grande área com túmulos de sacerdotes lá enterrados, junto aos quais vimos algumas velhinhas com seus netinhos rezando.

Assim foi com a visita a um acampamento da Academia de Escritores, que dispunha de alojamento alugado àqueles que quisessem dispor de um local isolado e tranquilo para produção dos seus textos literários, além de um amplo campo verde, com suas berioskas (a árvore típica da Rússia, em formato análogo ao nosso pinheiro); e onde havia alguns túmulos de escritores. Lá visitamos o túmulo de Boris Pasternak, o escritor que se tornou famoso depois que foi impedido de viajar para o exterior para receber o Prêmio Nobel por seu livro “Doutor Jivago”. O túmulo, de mármore branco, estava locado sob a sombra de três altas berioskas e tinha a cabeça do escritor esculpida para dentro. Foi uma visita comovente.

Mas, em Moscou, durante os dias úteis, fizemos outro tipo de excursões. Frequentamos o Teatro Na Taganka, que tinha na sua direção o diretor dissidente Yuri Liubimov. Este diretor discordava da encenação dominante e inovou a arte cênica na Rússia. As suas apresentações lotavam o teatro onde se apresentava, com estudantes, inclusive nós duas, sentados no chão do corredor de passagem da entrada do teatro ao palco. Lá vimos 10 dias que abalaram o mundo, de John Reed e Galilei, de Bertold Brecht. Durante a exibição da primeira, os espectadores eram recebidos à porta de entrada do teatro, com atores vestidos de soldados.

Frequentamos reuniões de leitura de textos literários censurados e, por isso, proibidos.  Não eram textos impressos, mas datilografados em várias cópias e distribuídos.  Alguns escritores, que tiveram seus textos censurados, tentaram lança-los no exterior. Um caso que provocou escândalo geral e discussões entre meus amigos  Baeta e eu, foi o de dois deles, que resolveram publicar seus livros no exterior. Não me lembro como terminou a história.

Em síntese, Sveta abriu-me um novo horizonte de entendimento do sistema soviético, em todos os sentidos. Desde as condições de vida, do engajamento das pessoas, e dos caminhos antevistos por elas para melhoria dessas condições no terreno político.    Que me permitiu encarar as tentativas de abertura política com entusiasmo, desde as propostas por Liberman no sistema de planejamento até  a perestroika de Gorbachev.  Não consigo lembrar-me de como nos separamos, de quando ela voltou à Ucrânia e não consegui localizá-la através dos canais disponíveis para localização de pessoas procuradas por alguém, nas vezes em que voltei à URSS.

******

Em relação ao trabalho que desenvolvi durante o período de minha estadia no país, recebi grande auxílio de duas pessoas, a quem devo um tributo de agradecimento: Lena Kapustian, uma pesquisadora russa que fazia sua tese sobre o Chile junto ao Instituto da América Latina da Academia de Ciências e conhecia muito bem a língua espanhola, que serviu como minha acompanhante a todas as entrevistas que realizei naquela então, para socorrer-me quando encontrasse dificuldades em expressar-me na língua russa. E Tatiana Vorojeikina, uma pesquisadora independente, sobre a América Latina.

Mas foram de extrema importância os contatos estabelecidos com alguns pesquisadores e participantes do processo de transformação da URSS. Cito-os aqui:  i) Yuri Levada, diretor de um Instituto de Opinião Pública, com quem continuei mantendo contatos quando voltei à URSS durante a perestroika.  Incluí um texto dele, de natureza antropológica, sobre o “homem soviético” no meu livro Do socialismo soviético ao capitalismo russo, editado em 2018. ii) Tatiana Zaslavskaia, socióloga, acadêmica da Academia de Ciência da URSS, co-presidente do Intertsenter – Centro Acadêmico Internacional de Ciências Sociais. Teve atuação importantíssima na discussão acadêmica sobre os mecanismos de transformação institucional da sociedade soviética.  iii) Abel G. Aganbenian, presidente da Academia Nacional de Economia, conselheiro de Mikhail Gorbachev durante a perestroika; e sua esposa Zoia Aganbegian, em entrevistas informais.  iv)  Ivan Sergueivich Koraliov, pesquisador do IMEMO – Instituto da Economia Mundial e das Relações Internacionais, com o qual mantive as mais cordiais relações até muito recentemente.

Não menos importantes para tornar minha estadia na URSS proveitosa no sentido pessoal foram o carinho e a amizade de Clara, mencionada no início deste texto como o exemplo da “Alma russa”; e do casal Polina Budnitskaia e seu marido Lionia, na casa de quem eu almoçava todos os finais de semana. Enquanto Polina preparava o almoço e assava o seu rápido, mas saboroso bolo de mel, Lionia conversava comigo criticamente sobre a situação política na URSS.  Duplo proveito e prazer.

 

[1] Algumas vivências desse período ultrapassam esse ano e meio, por não terem nele terminado.

Resumo

Esse texto relata a experiência da Profa. Lenina Pomeranz na URSS dos anos 1960.

Palavras-chave: História, Urss, cotidiano.

Abstract

This text recounts the experiences of Professor Lenina Pomeranz in the USSR in the 1960s.

Keywords: History, USSR, daily life.


Comitê de Redação: Eduardo Cação, Giovanna Herrera, Rosa Rosa Gomes.
Conselho Consultivo: Fernando Ferreira, Lincoln Secco, Marisa Deaecto, Osvaldo Coggiola.
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