GMARX: balanço e perspectivas

Texto elaborado em 2013 por Lincoln Secco e Rosa Rosa Gomes

O que é o GMarx?

Die Philosophen haben die Welt nur verschieden interpretiert; es kömmt darauf an, sie zu verändern. (Karl Marx: Thesen über Feuerbach)

O GMarx surgiu como um ciclo de leituras absolutamente diferente dos laboratórios acadêmicos pela composição híbrida (militantes e acadêmicos) e pela forma de exposição (são os próprios alunos os expositores e principais debatedores). É plural no campo teórico de esquerda, mas nele predomina a visão histórica e interdisciplinar. Nossas reuniões ocorrem no centro da cidade, sem as barreiras geográficas do rio Pinheiros e das guaritas da Cidade Universitária que afastam os estudantes do convívio com a população.

No ano de 2009, com reuniões no Centro Universitário Maria Antônia, o calendário foi o seguinte: Manifesto Comunista (Marx/Engels; 18 Brumário (Marx; Guerra Civil na França (Marx); A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra (Engels; História da Revolução Russa, caps. 1 a 5 (Trotski); Evolução Política do Brasil (C. Prado Jr.); Introdução à Revolução Brasileira (N. W. Sodré.); A Revolução Brasileira (C. Prado Jr.); Revoluções do Brasil Contemporâneo (Carone).

Começamos, portanto, comentando trabalhos de marxistas enquanto historiadores.

O segundo ano (2010), com reuniões principalmente na Faculdade de Saúde Pública e na Faculdade de Enfermagem, teve o seguinte cronograma: Ideologia Alemã (Parte I - Feuerbach) (Marx e Engels); Guerra Camponesa na Alemanha (Engels; Lutas de Classes em França (Marx) 8 de maio; Introdução à Luta de Classes em França (Engels); "Questão Meridional" (Gramsci); Ensaio sobre os intelectuais (Gramsci); Diretrizes (Caio Prado Jr); Sete Ensaios, capitulo a definir (Mariategui); Reflexões metodológicas (Gorender) e As Desventuras da Marxologia (Werneck Sodré); O Marxismo no Brasil (Carone).

Neste ano de 2010, conseguimos aprofundar a linha do ano anterior com novos autores latino- americanos.

Na fase seguinte, abandonamos a perspectiva panorâmica (que foi útil) para fazer um esforço concentrado numa época da história do marxismo e, inicialmente, na crítica da economia política e das armas. A época é a do imperialismo clássico (1880-1945, mais ou menos). Nesta etapa vimos surgir os revolucionários como Rosa Luxemburg, Lenin e Trotski e, nos anos vinte, Lukács, Gramsci, Korsch, etc..

Poderosa ferramenta teórica, o marxismo é a teoria capaz de uma autocrítica permanente. Só é possível uma crítica marxista do marxismo. Portanto, quando em certos períodos históricos ele se ossifica numa doutrina, numa técnica de exercício do poder, numa economia política, numa técnica de aceleração de desenvolvimento econômico (política econômica) ou num conjunto de abstrações metafísicas, sempre há a possibilidade de um deslocamento interno na direção da revolução e da contestação de si mesmo. O Marxismo, mesmo sob a forma mercantil, pode se insurgir contra a forma por ele mesmo assumida e engendrar a crítica de uma sociedade fundada no movimento automático e sem sujeito da acumulação de capital.

Nossa insistência no período clássico do imperialismo residiu no fato de que os marxismos ali surgidos se dedicaram muito mais à crítica da economia, apresentaram-se como crítica das armas e se fortaleceram também nos campos da História e da Política.

Assim em 2011, o grupo dedicou-se às leituras: Isaac Ilitch Rubin, Teoria Marxista do Valor leitura completa de férias; Preobajensky, A Nova Econômica; Rosa Luxemburg, As Condições históricas da acumulação;Engels, Os bakuninistas em ação e Introdução à luta de classes em França;Trotsky, Arte da Insurreição e Stalin, A Questão da Estratégia e Tática dos Comunistas Russos, vol. 5 das Obras; Paul Mattick, Espontaneidade e Organização; Gramsci,Risorgimento (hegemonia, revolução passiva etc); Gramsci, Guerra de Posição e Guerra de Movimento (seleção de textos).

Com as notícias da edição dos Grundrisse em português, o grupo se animou na empreitada de selecionar trechos do livro para as leituras de 2012 e assim foi feito. Terminado mais este ciclo, e já estabelecido no Centro Universitário Maria Antônia como seu principal lugar de reuniões, pareceu ao grupo o momento propício de pensar formas de organização em uma perspectiva histórica, iniciando os debates em Marx e Engels, passando pela Socialdemocracia e a Revolução Russa, finalizando com os debates atuais.

m 2013 o GMarx se voltou às questões de organização política e às leituras críticas da forma partido (veja o calendário abaixo).

No segundo semestre de 2013 surgiu depois de longos debates a vontade de levar as discussões do grupo de estudos para outros lugares através da organização de reuniões abertas e cursos e na sua configuração como um coletivo, cuja atuação a princípio se daria na proposta de atividades formativas.

Externamente, as manifestações do primeiro semestre deste ano mostram o alinhamento do cronograma de leituras com as discussões feitas nas ruas. A questão da forma de organização dos movimentos sociais, a tomada de consciência pelos trabalhadores, táticas e estratégias, meios e fins, estas questões postas na rua, em debate pela população, eram questões discutidas por nós através dos textos e da ação, da prática da maioria de nossos integrantes. O debate interno foi enriquecido e avançou através da prática, dando maior fôlego à vontade de ser mais que um grupo de estudos, com uma análise conjuntural da necessidade de um debate mais amplo.