Mundo acadêmico...
CHE GUEVARA, A REVOLUÇÃO CUBANA E A ESQUERDA NO BRASIL
Uma visão panorâmica política e editorial
Luiz Bernardo Pericás
Professor de História - USP
Fidel discursa na sede da União Nacional dos Estudantes. Foto: Memorial da Democracia
A partir do triunfo da revolução cubana, jornalistas, políticos, artistas e intelectuais brasileiros começaram a afluir à ilha em número cada vez maior, para ver de perto os desdobramentos daquele que foi um dos eventos mais importantes da América Latina no século passado. O enorme interesse gerado pela luta guerrilheira e pelas possibilidades de mudanças abertas com a vitória dos rebeldes levou muitos compatriotas a visitar o país, a se reunir com suas principais lideranças e a divulgar, em livros, artigos e congressos, os feitos dos barbudos (e, também, pouco tempo depois, o processo de construção do socialismo no país). Durante a ditadura militar no Brasil, Cuba seria vista como um fanal revolucionário e seu exemplo inspiraria centenas de jovens a seguir o caminho da luta armada.
Vale lembrar que já em janeiro de 1959, Armando Gimenez, repórter dos Diários Associados, visitou a “mayor de las Antillas”, participando da Operação Verdade e do Fórum de Debates sobre a Reforma Agrária, em Havana. Ele entrevistou na ocasião o “líder máximo” e o Che, e escreveu o primeiro livro de um brasileiro sobre aquele momento histórico transcendente, Sierra Maestra: a revolução de Fidel Castro, publicado pelas Edições Zumbi.[1] O sucesso foi tal que a obra esgotou rapidamente, com uma segunda tiragem saindo da gráfica na sequência.
Em 1959, por sua vez, o dirigente comunista Pedro Pomar esteve na ilha, onde permaneceu por quarenta dias. Ao retornar, produziu artigos para o semanário Novos Rumos e participou de palestras em defesa da revolução.[2] Pomar seria incisivo em seu apoio a Cuba:
Tudo que diz respeito à revolução cubana, a seus problemas e dificuldades, em uma palavra, a seu destino, interessa profundamente às forças patrióticas e populares do Brasil. A revolução cubana e autenticamente popular golpeia frontalmente o imperialismo americano, eleva a consciência nacional do povo cubano e dos povos irmãos do continente e demonstra a pujança e o crescimento da luta libertadora e democrática na América Latina. O exemplo da revolução cubana alenta a luta que travamos pela emancipação nacional e social de nosso povo, é parte integrante dessa luta e como tal deve também ser por nós defendida e ajudada... Devemos manifestar por todos os meios a nosso alcance, decidido apoio à causa do povo cubano, como se fosse a nossa própria causa, e repudiar provocações, sabotagens e manobras contra os interesses do povo cubano. É tempo de ajudarmos, através de um amplo e ativo movimento de solidariedade, as reivindicações de soberania e de anti-intervenção, de progresso e de reformas sociais do combativo e glorioso povo irmão.[3]
Logo depois do triunfo da revolução – ou seja, vários meses antes do artigo de Pomar –, Roberto Morena publicava “A América se liberta” no periódico Voz Operária, no qual dizia que:
[...] a fuga protegida do conhecido gangster sindical cubano Eusébio Mujal não permitiu que os trabalhadores desse país irmão pudessem julgar seus crimes. Ele e seu grupo espalharam o terror por muitos anos contra dirigentes sindicais honestos e combativos. Ainda não se sabe quantos foram imolados à sanha desses bandidos, acobertados pela ditadura policial de Batista e pelos dirigentes continentes da ORIT e os da CIOSL.
Ele continuava:
Assistimos as denúncias dos trabalhadores cubanos em todos os congressos continentais e internacionais contra a ação desses bandidos, descritos palidamente num filme americano Sindicato de ladrões. Mujal e companhia sempre gozaram da proteção dos dirigentes sindicais norte-americanos de seu estilo, acobertados sob a bandeira do anticomunismo, arvorada pelos que dominam a AFL-CIO, donatários da ORIT e CIOSL.
Mujal fez-se rico. Segundo se sabe, riquíssimo. Roubou dinheiro dos trabalhadores. Extorquia os empregadores e o governo. Seu grupo se apoderou do Palácio dos Trabalhadores, construído pelas subvenções diárias dos operários cubanos organizados na antiga Confederação dos Trabalhadores de Cuba. Agora está a caminho da Argentina e naturalmente irá dar seus préstimos aos que esmagam os trabalhadores da nossa irmã República Argentina.
Necessitamos conhecer profundamente a tragédia e o sofrimento dos nossos irmãos trabalhadores de Cuba. Por muitos anos foram vítimas da tirania de Machado. Libertaram-se na luta heroica contra esse sanguinário ditador. Tiveram um período de liberdade. Realizaram ações heroicas. Souberam sempre prestar a maior solidariedade a todos os povos que lutavam pela sua liberdade. Ajudaram o povo da Venezuela, da Colômbia e de muitas pequenas repúblicas das Antilhas e da América Central. Depois caíram nas mãos do ditador corrupto e assassino Batista. Agora retornaram a desfrutar da liberdade. Mas muitos de seus melhores líderes e dirigentes não poderão gozar dessa redenção.
Os trabalhadores brasileiros e suas organizações sindicais não podem ficar indiferentes à luta dos trabalhadores de Cuba e de seus companheiros da Argentina. Estamos assistindo às maquinações dos imperialistas norte-americanos em querer criar um clima de malquerença com os que libertaram a terra de Martí e Julio Antonio Mella, com o propósito de impedir que eles possam realizar seu programa de libertação do país das garras do imperialismo americano, que não satisfeito de ganhar grandes fortunas à custa dos trabalhadores de Cuba, ainda os assassinaram com as bombas napalm.
Precisamos conhecer bem a história das lutas dos trabalhadores de Cuba para não permitir que elas se reproduzam em nossa terra. Aqui não devem vicejar os Mujal. Para isso necessitamos defender cada vez mais a liberdade sindical, a unidade e democracia em todas as entidades sindicais.
O movimento sindical do Brasil tem um grande dever: auxiliar aos demais a se libertarem dessa tirania. Sem liberdade e sem democracia o movimento sindical não pode participar ativamente da luta de emancipação de nossas pátrias e do crescente bem-estar dos nossos povos.
Urge uma reunião continental dos trabalhadores e do movimento sindical da América para unir todas as forças do trabalho, criando um plano de ação, um compromisso, para uma ajuda mútua, entre todos os povos da América que querem se libertar do jugo imperialista, lutar por sua emancipação e pela defesa permanente de sua liberdade. É chegada a hora para essa realização. As forças libertadoras se agigantam e já vai ficando pequeno o terreno para os Batistas, Pinillas, Mujal e companhia.[4]
Naquele mesmo ano, Fidel Castro visitou o Brasil, última parte de uma viagem de 25 dias no continente americano. Na ocasião, Carlos Marighella, outro importante líder pecebista, organizou eventos de solidariedade à revolução cubana e delegações político-culturais à ilha caribenha.[5] Ou seja, foram vários os intelectuais e dirigentes comunistas que imediatamente se pronunciaram em apoio à revolução, nomes importantes como Pomar, Marighella, Luiz Carlos Prestes, Roberto Morena, Rui Facó, Ana Montenegro e tantos outros.[6]
A presença de cubanos no Brasil, de fato, despertou grande curiosidade dos leitores. O periódico Novos Rumos, em sua edição de 3 a 9 de abril de 1959, por exemplo, estampou a manchete “Hóspedes do povo – os barbudos cubanos”, cuja matéria informava que “um grupo de oito soldados de Fidel Castro chega terça-feira ao Rio, procedente de Montevidéu”. Dizia o texto que eles haviam partido de Havana e estavam percorrendo a América Latina, tendo como objetivo “explicar as origens e o desenvolvimento do movimento revolucionário chefiado por Fidel Castro”. Continuava: “Sua chegada ao aeroporto do Galeão despertou grande interesse, particularmente entre a juventude estudantil, que recebeu os soldados cubanos com flores, cartazes de boas-vindas e expressões de entusiasmo”.[7] Na coluna do Barão de Itararé (na página 9 daquele mesmo número), por sua vez, com seu tom corriqueiramente humorístico, o jornalista comentaria que:
[...] a diretoria do Sindicato dos Barbeiros deu uma mancada, propondo-se a raspar gratuitamente a barba dos revolucionários cubanos que andam percorrendo os países latino-americanos, explicando os objetivos da revolução libertadora. A proposta foi inoportuna e impertinente, e não deveria ser formulada pelos representantes da digna e humilde classe, tão necessitada de bons ensinamentos revolucionários.[8]
Como mais um efeito da visita dos cubanos ao Rio de Janeiro, na edição de número 7, sairia outra reportagem, “O mundo já não é um quintal do imperialismo: o tenente Benitez fala sobre Cuba durante e depois da revolução”, matéria de Renato Arena, que entrevistou Orlando Benitez em seu quarto em um hotel de Copacabana.[9]
O próprio Fidel veio ao Brasil no final de abril. Esteve em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília (ainda em construção). A primeira parada foi em São Paulo (por causa de um problema no aeroporto do Galeão, o Bristol Britannia da Cubana de Aviación teve de pousar em Congonhas). Daquela cidade, foi para Brasília a convite do presidente Juscelino Kubitschek. Na futura capital federal, ainda não inaugurada, visitou o Palácio da Alvorada com JK. De lá, seguiu para Buenos Aires e, na sequência, após trânsito por Montevidéu, se dirigiu para o Rio de Janeiro, com sua comitiva de 50 pessoas, aonde chegou no dia 5 de maio.[10] Hospedou-se no Hotel Excelsior, em Copacabana. Visitou o Batalhão de Guardas, encontrou-se com o ministro da Guerra – o marechal Teixeira Lott – e almoçou com Juscelino e o chanceler Negrão de Lima no Palácio Laranjeiras, um acontecimento que contou com as presenças do vice-presidente João Goulart; dos senadores Filinto Müller e Benedito Valadares; do embaixador do Brasil em Cuba, Vasco Leitão da Cunha; do embaixador cubano no país, Rafael Garcia Bárcena; do deputado Cid Carvalho; do ministro Aluísio Napoleão; do advogado, jornalista e presidente da ABI, o carioca Herbert Moses; e do escritor Antônio Olinto. Na ocasião, Fidel expressou entusiasticamente seu apoio à “Operação Pan-americana” proposta por JK. Além disso, se reuniu com os deputados Carlos Lacerda, San Tiago Dantas, Magalhães Pinto e Neiva Moreira, assim como com o prefeito de São Paulo, Ademar de Barros, que aparentemente manifestou seu desacordo com os fuzilamentos na ilha. Naquela noite, ainda compareceu a uma festa na casa de José e Maria do Carmo Nabuco.[11] Castro também daria uma entrevista coletiva na Associação Brasileira de Imprensa (ABI),[12] ocasião em que falou extensamente sobre a reforma agrária[13] (em torno de 500 jornalistas estiveram presentes em sua conferência). Isso para não falar de conversas que teve com alguns artistas, como Ivon Curi e Angela Maria, que visitaram o líder cubano. Castro também participou do quadro “Esta é a sua vida”, do programa de televisão semanal de Jota Silvestre, da TV Tupi. E em 7 de maio, ainda discursou por duas horas e dez minutos em um comício organizado pela União Nacional dos Estudantes (UNE), onde debateu com a juventude local,[14] sendo ovacionado pelo público presente.[15] Naquele mesmo dia, ele retornaria a Cuba.[16] Vale assinalar que a redação de Novos Rumos foi visitada, durante aquele período, por Lionel Soto, do diário Hoy.[17]
Em agosto, as movimentações de setores progressistas brasileiros continuaram. Nesse sentido, a matéria “Apoio dos brasileiros à causa cubana”,[18] do mesmo jornal, dizia que “na próxima quarta-feira, dia 26, às 20 horas, no auditório da Associação Brasileira de Imprensa”, seria realizada uma manifestação pública de apoio do povo brasileiro a Cuba. Na ocasião, fez uso da palavra o deputado Coutinho Cavalcanti e o jornalista Luciano Martins, que haviam regressado recentemente daquele país. Já “Solidariedade ao povo cubano” informava que o deputado Salvador Loco (PTB), havia se pronunciado na Câmara Federal, na sexta-feira anterior, em discurso enérgico contra a intervenção americana em Cuba, quando denunciou os Estados Unidos e prestou solidariedade à ilha.[19] Na mesma época, em Porto Alegre, a propósito da intervenção americana contra aquele país, o Movimento Estudantil Nacionalista do Rio Grande do Sul divulgou uma nota que “manifesta a sua solidariedade à luta que o povo cubano através do governo revolucionário de Fidel Castro, trava contra certos grupos econômicos norte-americanos que chegam até a armar aviões com o objetivo de bombardear Havana”.[20] Afinal, “esta posição dos estudantes nacionalistas gaúchos faz-se necessária quando se leva em conta que a luta dos povos latino-americanos tem as mesmas causas e procura alcançar os mesmos objetivos – emancipação econômica e política dos países deste hemisfério”.[21]
O fato é que os acontecimentos em Cuba seriam narrados e divulgados amplamente no Brasil tanto pela grande imprensa[22] como pelos periódicos comunistas Voz Operária e Novos Rumos. Foram muitas as matérias sobre diversos aspectos do que ocorria na ilha naquele primeiro ano após o triunfo da revolução, com destaque para artigos sobre Che Guevara, o PSP, Nicolás Guillén, Juan Marinello, Blas Roca, a reforma agrária, o papel dos Estados Unidos e a situação da economia cubana, entre outros assuntos.[23]
Daí em diante, a quantidade de concidadãos que visitaria Cuba só iria aumentar. É o caso de Jânio Quadros – então candidato à presidência da República –, que no final de março de 1960 foi a Havana, quando teve a oportunidade de conversar longamente com Fidel, com o Che e com outras autoridades locais. A comitiva, que incluía os escritores Fernando Sabino e Rubem Braga, ficou cinco dias em Havana. No grupo, também constavam nomes conhecidos, como Márcio Moreira Alves, Hélio Fernandes, Murilo Melo Filho, Villas-Bôas Corrêa, Afonso Arinos, Adaucto Cardoso, Quintanilha Ribeiro, Castilho Cabral, José Aparecido, Murilo Costa Rego, Cid Sampaio, Seixas Dória, Paulo de Tarso, Juracy Magalhães Júnior, João Ribeiro Dantas, Augusto Marzagão e Francisco Julião, entre outros.[24]
Em dezembro, foi a vez do intelectual pecebista Elias Chaves Neto ir àquela capital, onde cumpriu uma intensa agenda de atividades,[25] retornando ao Brasil em janeiro de 1961, mesma época em que o poeta e ensaísta Jamil Almansur Haddad andava pelo país, experiência que daria origem ao livro Revolução cubana e revolução brasileira[26]. Já Almir Matos, após percorrer a ilha conhecendo fábricas e cooperativas, lançou, em maio seguinte, seu Cuba: a revolução na América[27].
As visitas de brasileiros continuavam e se intensificavam. Uma delegação com mais de noventa pessoas, presidida pelo historiador paulista Caio Prado Júnior, chegou ao país em 30 de dezembro de 1961, justo a tempo para assistir às comemorações de aniversário da revolução em 1º de janeiro de 1962. O périplo de ônibus feito pelo grupo, que incluiria cidades como Camagüey, Santiago, Santa Clara e Holguín, duraria aproximadamente cinco semanas.[28]
Outra viagem naquele ano foi realizada por Nery Machado, que em seguida escreveu Cuba, vanguarda e farol da América (livro que saiu da gráfica em dezembro de 1962, mas com data de publicação de 1963), incluindo um prólogo de Gondin da Fonseca.[29]
Entre julho e agosto de 1962, nova comitiva foi à ilha, com a participação do então repórter do Diário de Notícias, Luiz Alberto Moniz Bandeira, que teve uma conversa reservada com Che Guevara por várias horas[30] (naquele mesmo ano sairia pela Editora Brasiliense Vais bem, Fidel, de Jurema Finamour, com prefácio de Leonel Brizola).
Diversos comitês de apoio a Cuba (com participantes tão distintos como trotskistas, comunistas, petebistas, pessebistas, acadêmicos, sindicalistas e estudantes) começaram a ser constituídos no Brasil. É só lembrar do Encontro Estadual dos Amigos de Cuba, em julho de 1961, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (faziam parte da Comissão Organizadora deste evento o historiador Caio Prado Júnior e o físico Mário Schenberg, ambos militantes do PCB); do Encontro Nacional da mesma entidade, no Sindicato dos Ferroviários da Estrada de Ferro Leopoldina, no Rio de Janeiro em 26 de março de 1963; ou do Congresso Continental de Solidariedade a Cuba, que ocorreu logo em seguida em Niterói, entre 28 e 30 de março, encabeçado por Luiz Gonzaga de Oliveira Leite e que teve como presidentes de honra Alexandre Barbosa Lima Sobrinho, Francisco Julião, Oscar Niemeyer, entre outros.[31] Na ocasião, Luiz Carlos Prestes, “o cavaleiro da esperança”, disse que “após a vitória da Revolução Cubana todos nós latino-americanos participamos da emulação revolucionária: todos nós desejamos ser o segundo país socialista da América. É o que nós, brasileiros, também desejamos!”[32] Prestes, naquele ano, visitaria a ilha, onde concederia uma longa entrevista ao jornal comunista Hoy.[33]
É importante lembrar que o então ministro de Indústrias de Cuba esteve brevemente no Brasil em 1961, para se reunir com o presidente Jânio Quadros, com quem conversara em Cuba. O Che partiu do Uruguai, após alguns dias de acalorados debates na reunião do Conselho Interamericano Econômico e Social (CIES), em Punta del Este, onde cumprira – naquele balneário e em Montevidéu – uma agenda cheia de discursos, reuniões políticas, coquetéis e entrevistas para a imprensa estrangeira. No Uruguai, o jornalista brasileiro Flávio Tavares, na época com 27 anos e trabalhando como correspondente do jornal Última Hora, acompanhou de perto as atividades do Che, tanto durante as sessões como nos intervalos da conferência, e se tornou bem próximo a ele, chegando a jantar duas vezes com o comandante no hotel onde se hospedava, tirando dezenas de fotos na ocasião[34] (anos mais tarde, Tavares participaria da luta armada, seria preso e torturado, e se tornaria um dos prisioneiros libertados em troca do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick – sequestrado por organizações guerrilheiras –, sendo levado em seguida, com outros militantes soltos na época, para o exílio no México). No Uruguai, Guevara teria uma conversa privada com Leonel Brizola.[35] E daria uma entrevista para vários repórteres brasileiros, entre os quais, Frederico Heller, do jornal O Estado de S. Paulo, Hermano Alves, do Correio da Manhã e Tarso de Castro, do Jornal do Dia, de Porto Alegre.[36] Antes de retornar a Havana, contudo, Guevara ainda tinha dois compromissos importantes: encontrar-se secretamente com o presidente Frondizi, na Argentina e em seguida, partir para o Brasil, onde seria recebido por Jânio.[37]
O avião da Cubana de Aviación pousou na Base Aérea de Brasília às onze e meia da noite, do dia 18 de agosto de 1961. A viagem de Guevara à capital brasileira fora decidida pouco tempo antes e era basicamente de “cortesia”. O encontro serviria, supostamente, para estreitar os laços de amizade entre os dois países. E, também, para discutir a situação e o destino de 168 exilados cubanos, que se encontravam na residência da Embaixada brasileira em Havana. O ato mais importante e simbólico da visita, contudo, seria a condecoração do Che com a “Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul”, a mais alta comenda do governo.[38]
Após uma reunião fechada com Jânio, no dia seguinte à sua chegada, Guevara concedeu uma entrevista a jornalistas e, junto com o encarregado de negócios de Cuba e alguns membros de sua delegação, foi para um almoço com o prefeito do Distrito Federal, Paulo de Tarso, na residência oficial do Riacho Fundo. Em seguida, deu uma volta de helicóptero sobre a capital e seguiu para a Base Aérea. Seu avião decolou às três horas da tarde, com destino a Havana.[39]
A visita do Che durou menos de dezesseis horas, mas deixaria suas marcas. A condecoração de Guevara foi a última solenidade de Jânio no Palácio do Planalto. Poucos dias depois, ele renunciou. Os militares, por sua vez, depois do golpe de 1964, em outro gesto simbólico, iriam retirar aquela comenda do famoso revolucionário.[40]
O biógrafo do Che, Pierre Kalfon, por sua vez, afirma que:
[...] em 17 de março de 1964 [o Che] viaja a Genebra para representar Cuba na primeira Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). No avião se senta a seu lado o jovem embaixador (vinte e oito anos) de Cuba no Brasil, filho do ministro cubano de Assuntos Exteriores, Raúl Roa. Chamam-no de Raulito para distingui-lo de seu pai. Fidel lhe encarregou uma missão precisa: transmitir textualmente a Guevara o que acaba de expor confidencialmente em Varadero ante um reduzido comitê. Trata-se do projeto do brasileiro Leonel Brizola, cunhado do presidente Goulart, de organizar no Brasil uma guerrilha ‘a la cubana’, e para isso se requer a ajuda dos cubanos. O Che escuta com suma atenção e lhe confia logo uma significativa mensagem: Diga a Brizola que se necessita de um bom chefe guerrilheiro, ofereço meus serviços[41]
Guevara ainda passaria rapidamente pelo Brasil mais uma vez, em novembro de 1966, por São Paulo, em trânsito, a caminho da Bolívia. Antes disso, houve especulações fantasiosas no país (de jornalistas e órgãos de segurança nacionais) de que o revolucionário argentino estivesse atuando por aqui. Teria sido visto em outubro de 1965 no Acre e em 4 de agosto de 1966, no município de Barracão, no Paraná. Pouco depois, no dia 19 de agosto do mesmo ano, autoridades militares brasileiras chegaram a organizar uma operação secreta para interceptar um automóvel em que Guevara supostamente se encontrava, já que haviam recebido uma informação de que ele estaria sendo transportado numa Rural Willys por Maurício Grabois e um camarada (ambos do PCdoB) pela estrada entre Curitiba e São Paulo![42] E ainda, houve quem comentasse sobre um encontro – sem nenhuma comprovação – do Che com Marighella e Joaquim Câmara Ferreira em São Paulo, quando ele estava a caminho da Bolívia, em novembro de1966, ou de uma suposta reunião de Guevara com Brizola, desta vez no Uruguai, na mesma época.[43] Tudo isso mostra como a desinformação sobre o Che, naquele momento, era grande.[44]
Por sinal, Régis Debray visitou Guevara quando este já estava atuando no oriente boliviano, em 1967. Na ocasião, o comandante teria mencionado o desejo de fazer uma conexão com Carlos Marighella. Na entrada do dia 27 de março de seu diário, o “guerrilheiro heroico” afirmou que Debray não gostou nem um pouco da ideia de que se tornaria difícil sua partida da base, e no dia 28 indicou que “o francês foi muito veemente quando mencionou o quão útil poderia ser lá fora”.[45] De qualquer forma, na ocasião, ele sugeriu ao filósofo parisiense que, antes de ir a Cuba e à Europa, fosse ao Brasil para procurar Carlos Marighella.[46] De acordo com Debray, no Brasil “o contato passava por certas forças ‘nacionalistas revolucionárias’, compostas nomeadamente por soldados, sargentos e marinheiros, agrupados atrás de um leader popular do Sul do Brasil” [ele provavelmente se referia a Leonel Brizola; vale lembrar que em seu diário, o guerrilheiro cubano Harry Villegas – também conhecido como Pombo – havia dito, em setembro de 1966, que em um recente Congresso do Partido Comunista do Uruguai, o dirigente comunista boliviano Jorge Kolle havia conversado com membros da “organização de Brizola”, que manifestaram sua decisão de iniciar a luta armada e pediram ajuda de seu partido para comprar armas e equipamentos, assim como pessoal que servisse de guia para entrar no território brasileiro, além do envio de emissários cubanos para discutir o auxílio].[47] E continuava:
Nas fronteiras de Minas Gerais e do Espírito Santo, este movimento estava construindo as bases de um foco guerrilheiro rural nas montanhas de Caparaó, foco que seria surpreendido no estágio de treino e desarticulado por um batalhão do Primeiro Exército Brasileiro, no momento preciso em que o Che metia mãos à obra. A coordenação prevista não teve, portanto, seguimento. As tendências dissidentes no seio do PCB não estavam ainda organizadas nem manifestas, e, se bem que Marighella tivesse já dado sinal de vida e das suas intenções em fins de 1966, o ELN brasileiro não existia ainda e não podia, portanto, haver um contato orgânico com as forças que acordarão mais tarde para lançar em 1968 a guerrilha urbana no Brasil. No entanto, o Che, informado tarde dos preparativos de Marighella que não passavam ainda de intenções, teve o cuidado de incluir a situação existente no seio do Comitê Regional do PCB de São Paulo no lote de informações que me pediu para lhe levar mais tarde, quando eu voltasse à guerrilha, depois de um périplo pelo estrangeiro, que acabou antes de ter começado, com minha captura em Muyupampa, em companhia de Ciro Bustos[48]
O fato é que, especialmente depois do golpe militar de 1964 e do endurecimento da ditadura, o caminho das armas seria a opção de diversos militantes de esquerda brasileiros. A partir daí, o papel de Cuba como o grande exemplo de revolução iria se fortalecer. Homens como o já citado Carlos Marighella, o capitão Carlos Lamarca e tantos outros, inspirados nos exemplos do Che e de Fidel, dariam suas vidas na luta contra a ditadura militar e contra a ingerência imperialista nos assuntos internos nacionais. Toda uma geração de jovens intelectuais militantes iria se formar politicamente dentro da aura da primeira revolução socialista do continente americano.
Vale lembrar que um dos primeiros grupos armados a se organizar depois do golpe, a Guerrilha do Caparaó (entre 1966 e 1967) – integrado principalmente por ex-militares cassados, membros do MNR e apoiados por Leonel Brizola –, recebeu financiamento dos cubanos[49] (o respaldo de Fidel depois mudaria para a ALN de Marighella; mesmo assim, Havana auxiliaria também outros grupos, ajudando no treinamento de militantes).[50] Por sua vez, o meio artístico (poetas, músicos, dramaturgos, atores, pintores e cineastas), representado por personalidades emblemáticas como Thiago de Mello, Chico Buarque, Oduvaldo Viana Filho, Mário Lago, Dias Gomes, Augusto Boal, Di Cavalcanti, Vinícius de Moraes, Ruy Guerra e Glauber Rocha, expressaria sua admiração pela revolução cubana, fosse na criação de obras de profunda crítica social, fosse através de declarações na imprensa, participação em atos públicos ou assinando manifestos de apoio ao governo castrista. O cantor Geraldo Vandré chegaria até mesmo a compor uma música em homenagem ao Che, enquanto Gianfrancesco Guarnieri, mais tarde, escreveria uma peça sobre ele[51] e Ferreira Gullar produziria o poema “Dentro da noite veloz”.
Houve um esforço de editoras como a Brasiliense, Zahar, Livraria Cultura Editora, Alfa-Omega, Vitória, Zumbi, Fulgor, Quilombo, Civilização Brasileira, Edições Populares e, mais tarde – já depois da ditadura –, Xamã, Boitempo e Expressão Popular (entre outras), para publicar textos e discursos de Che e Fidel (ou sobre eles), assim como trabalhos sobre Cuba. No caso da Brasiliense, Caio Prado Júnior e seu filho Caio Graco chegaram a ser detidos em 1965 por publicarem livros sobre a revolução cubana. Em 14 de abril, um despacho do promotor Durval Ayrton Moura de Araújo, da 2a Auditoria da 2a Região Militar, solicitava a remessa dos autos sobre as atividades subversivas dos dois para a justiça comum, já que os “crimes” imputados, a seu ver, enquadravam-se no Artigo 11, Parágrafo 3, da Lei de Segurança Nacional. Afinal, ambos eram acusados de editar e distribuir A revolução e o Estado, Discurso de 2 de janeiro de 1963 e Três declarações, todos de Fidel Castro![52] O delegado-adjunto de Ordem Política, Sylvio Moraes Bartoletti, chegou a dizer, sobre pai e filho, que “não há o que duvidar, portanto, que os indiciados devidamente qualificados estão a serviço dos interesses revolucionários do comunismo internacional, embora suas atividades se encontrem revestidas de uma forma aparentemente inócua”.[53]
Outro caso interessante é o do PCdoB, fundado em fevereiro de 1962, uma cisão do PCB pró-soviético. Ainda em novembro de 1961, antes mesmo do racha, a chamada “corrente revolucionária” (de João Amazonas, Maurício Grabois e Pedro Pomar), fundou a Edições Futuro.
O título inaugural lançado por ela, A guerra de guerrilhas, de Che Guevara, foi traduzido pelo próprio Grabois, diretamente da edição lançada em Havana pelo Departamento de Instrução do MINFAR, com ilustrações do tenente do exército rebelde de Cuba, Hernando López.[54] Esta foi a primeira obra do comandante publicada no Brasil e teve destaque, com mais de 10 mil exemplares vendidos em poucos meses. De acordo com o historiador Augusto Buonicore, o livro do Che foi censurado e recolhido por ordem do ministro da Justiça de Jango, sendo o único caso de censura deste tipo ocorrido durante aquele governo. Para Buonicore, a polícia do governador da Guanabara, Carlos Lacerda, teria se aproveitado da situação e invadido a sede da editora para apreender todos os exemplares no estoque.[55]
O segundo lançamento da Edições Futuro foi De Moncada à ONU (uma coletânea de textos de Fidel Castro), obra que continha “A história me absolverá”, um discurso feito na Assembleia Geral da ONU, e a “II Declaração de Havana”. Em julho daquele ano, por sua vez, João Amazonas proferiria a palestra “A Revolução Cubana e o futuro das Américas”, na sede do Partido Socialista Brasileiro, momento em que se estruturou um comitê provisório de solidariedade a Cuba.[56]
Buonicore ainda nos informa que o órgão do partido, A Classe Operária, em sua primeira edição, fez chegar aos leitores o texto de Fidel Castro, “Cuba socialista”, além de “Os povos oprimidos lutam pela paz combatendo por sua independência” (discurso pronunciado quando do recebimento do prêmio Lênin da paz). Em junho viria à luz “A América Latina é um vulcão”, de Che Guevara (os próprios dirigentes do PCdoB também dariam sua contribuição em diferentes textos sobre a ilha).[57] O partido, contudo, iria mudar sua postura em relação à Cuba algum tempo depois. Em março de 1966, a direção do PCdoB divulgaria o documento “O marxismo-leninismo triunfará na América Latina: carta aberta a Fidel Castro”, no qual mostrava divergências com o governo da ilha. A agremiação criticava os cubanos por sua tentativa de “exportar” a revolução para a região e condenava a “estratégia e a burocratização dos partidos comunistas latino-americanos, propondo e estimulando, inclusive materialmente, o caminho do foco guerrilheiro que, se seguido, levaria à implosão do modelo clássico de partido comunista. Essa política de exportação do foquismo causou divergências não só dentro do PCdoB como também no seio de praticamente todos os partidos comunistas pró-Moscou do continente”.[58] Segundo Jean Rodrigues Sales, o PCdoB – adepto do maoismo e da Guerra Popular Prolongada (GPP) –, iria tentar esclarecer seus militantes sobre os supostos perigos e equívocos da teoria do foco guerrilheiro e do castrismo.[59] O Partido Comunista do Brasil-Ala Vermelha (PCdoB-AV) e o Partido Comunista Revolucionário (PCR) seriam duas organizações egressas do PCdoB que participariam da luta armada.[60] O próprio PCdoB, inspirado na GPP – ou seja, seguindo um modelo distinto do propugnado pelos cubanos –, organizaria a guerrilha do Araguaia (como lembra Sales, “o relacionamento do PCdoB com o maoismo foi intenso até a segunda metade da década de 1970, quando há um rompimento público”).[61]
De qualquer forma, a revolução cubana e as ideias do Che (juntamente, por certo, com a assimilação de outras experiências históricas e elementos teóricos distintos) foram extremamente influentes em organizações como a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e a Ação Libertadora Nacional (ALN), esta última, “a organização que mais enviou militantes para o treinamento”[62] em Cuba.
O PCB, por outro lado, se posicionava contra a luta armada. No VI Congresso do partido (dezembro de 1967), a agremiação declarava, em sua resolução política, que a principal tarefa tática naquele momento era a mobilização, união e organização da classe operária e “demais forças patrióticas” para lutar contra a ditadura e pela conquista de liberdades democráticas. No documento, o PCB defendia a criação de uma frente única de todos os opositores do regime para destruir os “dois obstáculos históricos” que travavam o progresso nacional, o domínio imperialista e o monopólio da terra; acabariam, nesse processo, com a “burguesia entreguista” como força social. Afirmava o texto:
A vitória da revolução nacional e democrática assegurará a completa libertação econômica e política do país da dependência ao imperialismo e a transformação radical da estrutura agrária, com a eliminação do monopólio da propriedade da terra e das relações pré-capitalistas de produção [...]. Através desse caminho de desenvolvimento serão criadas as condições materiais para o desenvolvimento socialista da sociedade brasileira [...]. Mesmo não liquidando a exploração dos operários pela burguesia, a revolução nacional e democrática abre caminho para a vitória do socialismo.[63]
Além disso, o documento se colocava claramente contra a luta armada:
O grupo que procurava cindir o partido, mudar sua linha e adotar orientação aventureira e esquerdista, não faz mais do que opor-se a esse avanço histórico do nosso Partido e servir de instrumento das mesmas concepções atrasadas e estranhas ao marxismo, que tanto mal nos causaram no passado, quando não são instrumentos de forças que, na esfera nacional e internacional, laboram conscientemente para destruir o partido e para impor ao proletariado uma direção política alheia à sua doutrina e à sua organização de classe. Defende uma política que dispensa a consideração das condições objetivas, ou que supõe existir na realidade, já pronta ou iminente, uma situação revolucionária que apenas existe nas suas cabeças. Tal grupo quer reviver, com roupas novas de guerrilha, a concepção de revolução feita a partir de focos insurrecionais aventureiros, desligados do movimento real de massas. Quer substituir o partido marxista-leninista por um agrupamento militarizado de revolucionários, obedientes à sapiência e ao gênio de caudilhos. Quer, enfim, restaurar e consagrar, sob suas formas mais grosseiras, as mesmas concepções pequeno-burguesas, aventureiras, a que nos filiamos no passado, e com prejuízos pesados demais, para esquecer seu erro de origem.
A alternativa que propõem é, exatamente, aquela orientação criminosamente errada que predominou no partido em épocas recentes, e se tornou responsável pelo florescimento e a persistência de todas essas mazelas entre nós. Queremos mudar exatamente a orientação que permitiu o combate a elas, que infundiam motivação, ímpeto e vigor revolucionário aos militantes comunistas, individualmente e ao partido. Irão sozinhos a esse atoleiro os que insistem em arrastar para ele o partido. Ficarão à margem do movimento comunista, na companhia incômoda e solitária de outros desertores e expurgados do partido. Nosso partido, fiel aos princípios do marxismo-leninismo, permanece junto às massas, à frente delas, mobilizando-as, organizando-as, educando-as.[64]
De qualquer forma, Cuba teria destaque na produção de intelectuais brasileiros durante vários anos. Na Revista Brasiliense, Elias Chaves Neto escreveu “Cuba”, “Cuba e a América Latina”, “A Revolução Cubana”, “Cuba, no III aniversário da vitória da revolução”, “A beira do abismo” e “Paz para Cuba”[65]; Álvaro de Faria publicou “A Revolução Cubana no seu 2o aniversário”[66], e um manifesto de intelectuais cubanos também foi publicado na revista[67]. Dácio de Arruda Campos deu sua contribuição com “Cuba e o princípio da soberania”[68], Hélio Dutra enviou “Uma carta de Cuba”[69], Jamir Almansur Haddad colaborou com “Romanceiro cubano” e “Guillén no Brasil”[70] e Luiz Izrael Febrot, com “Cuba, ano 4 (impressões de viagem e anotações de leitura)”[71].
Em relação aos livros, no caso de Cuba, fizeram sucesso obras como Querida ilha,[72] de Hélio Dutra; Cuba hoje: 20 anos de revolução,[73] de Jorge Escosteguy; Cuba de Fidel: viagem à ilha proibida,[74] de Ignácio de Loyola Brandão; Suor e alegria: os trabalhadores em Cuba,[75] do ex-deputado federal cassado Márcio Moreira Alves (editado pela Seara Nova, de Portugal, quando o autor encontrava-se no exílio); Passaporte sem carimbo,[76] de Antonio Callado; O Che Guevara que conheci e retratei,[77] de Flávio Tavares; O senhor de todas as armas,[78] do jornalista Carlos Alberto Tenório; e Cuba: anotações sobre uma revolução,[79] de Eric Nepomuceno, assim como os best-sellers absolutos A ilha,[80] de Fernando Morais e a entrevista Fidel e a religião,[81] realizada por Frei Betto, que, por sugestão e encomenda do editor Caio Graco Prado, da Brasiliense, colheria um depoimento histórico de Castro sobre o assunto[82] (isso para não falar dos muitos títulos estrangeiros traduzidos para o português, de autores tão diversos em termos políticos e ideológicos como Paul Sweezy, Leo Huberman, Paul Baran, Jean-Paul Sartre, C. Wright Mills, Carlos Franqui, Theodore Draper, Corinne Cumerlato, Denis Rousseau, Paul Freston, Aviva Chomsky e Richard Gott, só para citar alguns).
Outras obras pioneiras, com maior caráter teórico e historiográfico, foram O pensamento de Che Guevara,[83] do brasileiro (radicado na França desde 1969) Michael Löwy (o primeiro esforço sério para se sistematizar o ideário político, econômico e filosófico do guerrilheiro heroico); A revolução cubana: uma reinterpretação,[84] de Vânia Bambirra; Da guerrilha ao socialismo: a revolução cubana,[85] escrito por um dos mais importantes sociólogos brasileiros, Florestan Fernandes; Revolução cubana: história e problemas atuais,[86] coletânea organizada pelo historiador Osvaldo Coggiola; e, finalmente, o calhamaço com enfoque essencialmente político e diplomático De Martí a Fidel: a revolução cubana e a América Latina,[87] de Moniz Bandeira. Vale mencionar aqui também os dez volumes das “Obras completas” de Che Guevara (da Coleção América Latina, Série Nossa História, Nossos Problemas), lançados na década de 1980 – a partir das Obras: Ernesto Che Guevara, 1957-1967, da Casa de las Américas –, livros publicados pelas Edições Populares de São Paulo, num projeto dirigido por Analdino Rodrigues Paulino Neto, e a antologia Che Guevara,[88] da coleção “Grandes Cientistas Sociais” da editora Ática, preparada por Eder Sader. Piedade Carvalho, por sua vez, publicou no início da década de 1990, Che: a poética do combate,[89] uma antologia com poemas de Guevara. E, também, os livros lançados pelo editor Caio Graco Prado, da Brasiliense, como Meu filho Che,[90] de Ernesto Guevara Lynch, e Com Che Guevara pela América do Sul,[91] de Alberto Granado. Muitos anos depois, viriam à luz no mercado editorial brasileiro os relatos da “segunda grande viagem” do Che, Outra vez: diário inédito da segunda viagem pela América Latina, 1953-1956,[92] do próprio Guevara e De Ernesto a Che: a segunda e última viagem de Guevara pela América Latina,[93] de Carlos “Calica” Ferrrer. Não custa recordar que o diário do Che na Bolívia foi publicado no Brasil em 1968 pelo jornal Correio da Manhã – ou seja, pouco depois de sua publicação em Cuba –, em um número especial com aquele documento,[94] além de outras edições ao longo dos anos (como aquela lançada pelas Edições Populares). O diário de Guevara na luta revolucionária em Cuba, intitulado Diário de um combatente,[95] por sua vez, saiu em 2012 pela editora Planeta.
Com o fim do socialismo real, poucos personagens do mundo socialista permaneceram no imaginário social como o Che. Fotos de velhos burocratas da União Soviética e da Europa Oriental não estampam camisas dos jovens nem inspiram as novas gerações. Já o Che é sempre colocado na mais alta estima pelos trabalhadores e lutadores sociais do Terceiro Mundo. Por outro lado, muito do estofo político de Guevara foi esvaziado, e seu legado, “comercializado”, “glamourizado”, “hollywoodizado”. A imagem do Che foi usada em desfiles de moda, pôsteres com seu rosto (principalmente a famosa foto de Alberto Korda) foram vendidos no mundo inteiro, filmes, calendários, livros sensacionalistas, cartões postais, boinas, bonecos e todo tipo de memorabília se espalharam pelo planeta.
No Brasil não seria diferente. Não só a imagem dele se tornou um produto rentável, mas com o avanço crescente de setores reacionários, sua vida e obra têm sido atacadas e vilipendiadas de maneira bastante agressiva em revistas, jornais e livros. Desde 1997, data comemorativa dos trinta anos do assassinato de Guevara em La Higuera (Bolívia), as biografias prevaleceram no mercado editorial nacional (em certos casos, escritas por jornalistas, politólogos e críticos), como as de Jorge Castañeda, Jon Lee Anderson e Paco Ignacio Taibo II, por exemplo[96] (a primeira biografia de Guevara publicada no Brasil após sua execução foi Meu amigo Che, de Ricardo Rojo, que saiu em 1968 pela Civilização Brasileira).
Ainda assim, os partidos de esquerda e movimentos sociais continuam a honrar a memória de Guevara, através de publicação de material didático e realização de conferências sobre sua vida e obra. O Che resistiu praticamente incólume à onda de ataques ao socialismo nas décadas recentes. O caráter quase mítico (e “místico”) do herói que vai para o sacrifício em nome de sua causa é, talvez, um dos motivos desta força cultural.
O fato é que o Che continua sendo estudado pela esquerda brasileira da atualidade. O MST é um caso emblemático. A Escola Nacional Florestan Fernandes tem seu retrato espalhado em diversos pontos da instituição, seu nome é constantemente evocado em reuniões e apresentações artísticas, e cursos são ministrados sobre ele.[97] A Editora Expressão Popular, ligada ao movimento, publica livros sobre o comandante, que são vendidos a preços populares.[98] O que fica do Che, em boa medida, é seu humanismo proletário, seu anti-imperialismo, sua rebeldia, sua luta pela construção do “homem novo”, seu terceiro-mundismo, seu latino-americanismo, sua ética revolucionária e seu comprometimento com as causas sociais, assim como sua importância dentro do marxismo.
O delicado e perigoso momento político em que vivemos – com o avanço de setores radicais ligados a grupos conservadores e da extrema direita (em alguns casos, até mesmo com traços neofascistas), muitos dos quais, apoiados por grandes conglomerados financeiros nacionais e estrangeiros (que resultaram no golpe contra a presidente Dilma Rousseff e, mais tarde, na eleição do presidente Jair Bolsonaro) – torna cada vez mais necessário resgatar a imagem, a ação e o pensamento do comandante Che Guevara. Como se vê, a disputa política e ideológica no país (e em todo o planeta) é intensa, mas o legado do Che permanece vivo, inspirando e estimulando todos aqueles que lutam por um mundo melhor.
[1] GIMENEZ, Armando. Sierra Maestra: a revolução de Fidel Castro. São Paulo: Zumbi, 1959.
[2] Ver POMAR, Wladimir. Pedro Pomar: uma vida em vermelho. São Paulo: Xamã. p. 233.
[3] POMAR, Pedro. Solidariedade à revolução cubana. Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 37, semana de 6 a 12 de novembro, 1959. p. 9.
[4] MORENA, Roberto. A América se liberta. Voz Operária, n. 503, 24 jan. 1959. p. 10.
[5] MAGALHÃES, Mário. Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 251, 269 e 270.
[6] Ver PRESTES, Luís Carlos. Saudação de Prestes ao Partido Socialista Popular de Cuba. Voz Operária, Rio de Janeiro, n. 503, 24 jan. 1959. p. 3; FACÓ, Rui. Solidariedade a Cuba! Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 25, semana de 14 a 20 de agosto, 1959. p. 2; MORENA, Roberto. A América se liberta. Voz Operária, Rio de Janeiro, n. 503, 24 jan. 1959. p. 10; MONTENEGRO, Ana. Crianças de Cuba. Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 36, semana de 30 de outubro a 5 de novembro, 1959. p. 11. Ana Montenegro diria: “As crianças cubanas nasceram à beira dos canaviais, e as mãos que mal puderam alimentá-las, vesti-las, segurá-las, têm marcas profundas deixadas pelas folhas de cana. E o sangue dessas mãos só tem servido para o adubo dos lucros que crescem, como crescem as propriedades, as plantações. Mas houve Sierra Maestra. No entanto, as ameaças continuam, diárias, insistentes, sintomáticas, por parte de grupos interessados na economia da cana-de-açúcar. Por isso, as crianças de Cuba precisam tanto de nós”. Ibidem, p. 11.
[7] HÓSPEDES do povo – os barbudos cubanos”. Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 6, semana de 3 a 9 de abril, 1959. p. 1. Por sinal, ainda na mesma página, mais uma matéria seria veiculada: “Mas a terra já começa a passar para os camponeses”. Na página 2, por sua vez, apareceu o texto intitulado “Fidel Castro: Batista foi ao poder e nele se manteve com o apoio dos EEUU”, no qual Fidel era descrito como um “jovem médico [sic] de origem pequeno burguesa”.
[8] Ver coluna de Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé, Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 6, semana de 3 a 9 de abril, 1959. p. 9.
[9] Ver Renato Arena, “O mundo já não é um quintal do imperialismo: o tenente Benitez fala sobre Cuba durante e depois da revolução”, Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, No. 7, semana de 10 a 16 de abril de 1959. p. 4.
[10] Ver VILLELA, Gustavo. Poucos meses após Revolução Cubana, Fidel faz comício para multidão no Rio. O Globo, 28 nov. 2016. Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/poucos-meses-apos-revolucao-cubana-fidel-faz-comicio-para-multidao-no-rio-20551384. Acesso em: 14 jul. 2025; e FURIATI, Claudia. Fidel Castro: uma biografia consentida, tomo II, do subversivo ao estadista. Rio de Janeiro: Revan, 2001. p. 48-49.
[11] FURIATI, op. cit., p. 50.
[12] FIDEL: o bem-estar do povo se consegue com medidas revolucionárias. Novos Rumos, Rio de Janeiro, n. 11, semana de 8 a 14 de maio, 1959. p. 1.
[13] Ibidem, p. 2.
[14] FURIATI, op. cit., p. 50; FIDEL chega ao Brasil em visita oficial. Memorial da Democracia, Disponível em: https://memorialdademocracia.com.br/card/chega-fidel-o-lider-da-revolucao-cubana. Acesso em: 14 jul. 2025.
[15] Ver CASTELLANOS, Adolfo Curbelo. Fidel no Brasil: 65 anos da primeira viagem do líder da Revolução Cubana. Brasil de Fato, 10 mai. 2024. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2024/05/10/fidel-no-brasil-65-anos-da-primeira-viagem-do-lider-da-revolucao-cubana. Acesso em: 14 jul. 2025; VILLELA, Gustavo. Poucos meses após Revolução Cubana, Fidel faz comício para multidão no Rio. O Globo, 28 nov. 2016. Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/poucos-meses-apos-revolucao-cubana-fidel-faz-comicio-para-multidao-no-rio-20551384. Acesso em: 14 jul. 2025. Segundo Novos Rumos, Castro havia escolhido o Rio para encerrar sua “tournée” em defesa da revolução cubana. Assim informava uma matéria de primeira página do mesmo periódico intitulada “Fidel: o bem-estar do povo se consegue com medidas revolucionárias”.
[16] Para uma descrição da viagem de Fidel Castro a vários países das Américas, ver também SZULC, Tad. Fidel: A Critical Portrait. Nova Iorque: Avon Books, 1987. p. 535-543; BÁEZ, Luis. Abril 28 de 1959: Fidel viaja a Brasil, Argentina y Uruguay. In: CABRERA, Asdrúbal Pereira (org.). Para dar vuelta el mate, Tomo II. Havana: Editora Política, 2012. p. 174-192.
[17] CUBA: a revolução não foi comunista nem anticomunista. Novos Rumos, Rio de Janeiro, n. 11, semana de 8 a 14 de maio, 1959. p. 2.
[18] APOIO dos brasileiros à causa cubana. Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 26, semana de 21 a 27 de agosto, 1959. p. 3.
[19] SOLIDARIEDADE ao povo cubano. Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 37, semana de 6 a 12 de novembro, 1959. p. 2.
[20] SOLIDARIEDADE dos estudantes. Ibidem.
[21] Ibidem.
[22] Todos os grandes jornais noticiaram o triunfo da revolução cubana, com maior ou menor destaque, como o Correio Paulistano, Folha da Noite, Correio da Manhã, Jornal do Brasil, O Jornal, Diário Carioca, Diário de Notícias, Diário de Pernambuco e O Estado de S. Paulo. Ver, por exemplo, AGUIAR, Pedro. 1959: Revolução Cubana. Manchetempo, 1 jan. 2023. Disponível em: https://manchetempo.uff.br/?p=3259. Acesso em: 14 jul. 2025. Como destaque, as seis reportagens escritas por Carlos Alberto Tenório para o Jornal do Brasil, em janeiro de 1959. Tenório já havia publicado duas matérias importantes em agosto de 1958 na revista Manchete, durante o processo revolucionário. Ver TENÓRIO, Carlos Alberto. O senhor de todas as armas. Rio de Janeiro: Mauad, 1996.
[23] Ver GUEVARA acusa. Voz Operária, Rio de Janeiro, n. 502, 17 jan. 1959. p. 1; “Os comunistas têm direito à legalidade de seu partido”, (ibidem, p. 2). Na página 7, seção “Vida dos Partidos Comunistas”, foi publicada uma matéria com o título “Assassinados pelos esbirros do ditador dois líderes do proletariado cubano”, sobre Carlos Careaga e Saturnino Aneiro, assassinados em 18 de novembro do ano anterior, teria destaque. O PSP, segundo o artigo, lançou uma declaração ao povo sobre o ocorrido: POSIÇÃO dos comunistas: cumprimento dos objetivos da revolução cubana. Voz Operária, Rio de Janeiro, n. 506, 14 fev. 1959. p. 8; BLAS ROCA responde a Figueres: ‘ajuda’ norte-americana significa atraso e reação. Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 8, semana de 17 a 23 de abril, 1959. p. 7; REFORMA agrária em Cuba: por que as terras vão ser divididas. Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 15, semana de 5 a 11 de junho, 1959. p. 6; CUBA: principais dispositivos da lei de reforma agrária. Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 16, semana de 12 a 18 de junho, 1959. p. 10; QUE TIPO de revolução é esta? Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 17, semana de 19 a 25 de junho, 1959. p. 7; CUBA ante os EEUU: relações de igual para igual. Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 21, semana de 17 a 23 de julho, 1959. p. 7; O PSP de Cuba: O primeiro dever: defesa da revolução. Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 23, semana de 31 de julho a 6 de agosto, 1959. p. 8; QUEREM os EUA utilizar a OEA para agredir Cuba. Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 24, semana de 7 a 13 de julho, 1959. p. 3; CUBA de Fidel Castro vista por um americano: a economia da revolução cubana. Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 34, semana de 16 a 22 de outubro, 1959. p. 8; “Aviões americanos bombardeiam Cuba”, “Solidariedade a Cuba” (nota) e “Que fez a revolução”, Novos Rumos, Rio de Janeiro, Ano I, n. 36, semana de 30 de outubro a 5 de novembro, 1959. p. 2.
[24] CAMINHA, Edmílson. Brasil e Cuba: modos de ver, maneiras de sentir, uma leitura comparada de obras sobre Cuba publicadas no Brasil. Brasília: Thesaurus, 2006. p. 11-12.
[25] CHAVES NETO, Elias. Minha vida e as lutas de meu tempo, p. 154-159.
[26] HADDAD, Jamil Almansur. Revolução cubana e revolução brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1961.
[27] MATOS, Almir. Cuba: a revolução na América. Rio de Janeiro: Vitória, 1961.
[28] Ver PERICÁS, Luiz Bernardo. Caio Prado Júnior: uma biografia política. São Paulo: Boitempo, 2016.
[29] MACHADO, Nery. Cuba, vanguarda e farol da América. São Paulo: Fulgor, 1963.
[30] Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira a Luiz Bernardo Pericás, janeiro de 2011.
[31] Secretaria de Segurança Pública, Dependência Serviço de Informação, Dops, 28 de julho de 1970, arquivo pessoal de Danda Prado; ver também ANAIS do Congresso Continental de Solidariedade a Cuba. Niterói, 28 a 30 de março de 1963.
[32] ANAIS do Congresso Continental de Solidariedade a Cuba, ibidem, p. 101.
[33] Correspondência de Augusto Buonicore com Luiz Bernardo Pericás, julho de 2014.
[34] TAVARES, Flávio. O Che Guevara que conheci e retratei. Porto Alegre: RBS Publicações, 2007. p. 9.
[35] Flávio Tavares afirma que “dois dias depois, Leonel Brizola me procura na reunião e, ‘em sigilo’, conta-me que vai retirar-se da delegação do Brasil, da qual é conselheiro especial. ‘As instruções do presidente Jânio Quadros, de apoio a Cuba, não estão sendo cumpridas e o Brasil só faz o jogo dos EUA’, explica. Deixará uma carta ao ministro da Fazenda, Clemente Mariani, chefe da delegação, mas não se despedirá dele nem de ninguém. Pessoalmente, só quer despedir-se de Guevara. Pede-me que eu o localize, dando-me inclusive seu carro com chofer./ Nessa tarde, o Che não fora à reunião e demoro a saber onde está. Vou encontrá-lo no quarto do hotel, às voltas com uma crise de asma. Conto-lhe de Brizola e, no carro do governo gaúcho (eu a seu lado, Tamayo junto ao motorista), vamos à sede da reunião. Os dois se encontram e conversam de pé e a sós, numa salinha envidraçada. Do lado de fora da porta, vejo tudo, sem ouvir. Ao início, Brizola fala sem parar. Logo, é a vez do Che. Uns 20 minutos depois, despedem-se e o Che entra no salão da conferência”. (Ibidem, p. 50).
[36] Ibidem, p. 61.
[37] Ver PERICÁS, Luiz Bernardo. Condecorando Che. Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, n. 33, jun. 2008. p. 67; PERICÁS, Luiz Bernardo. O encontro de Che Guevara e Jânio Quadros. Quaderni della Fondazione Ernesto Che Guevara, Bolsena, n. 7, 2007-2008. p. 93-94; BARBOSA, Carlos Alberto Leite. Desafio inacabado, a política externa de Jânio Quadros. São Paulo: Atheneu, 2007; e depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira a Luiz Bernardo Pericás, janeiro de 2011.
[38] Ibidem.
[39] Ibidem.
[40] Ibidem. Ver também Asdrúbal Pereira Cabrera (org.). Para dar vuelta el mate, Tomo II. Havana: Editora Política, 2012. p. 231-249.
[41] KALFON, Pierre. Che: Ernesto Guevara, una leyenda de nuestro siglo. Barcelona: Plaza & Janés Editores, 1997. p. 410. O antigo primeiro-secretário do Partido Comunista da Bolívia, Mario Monje, aparentemente tinha a mesma opinião; ele também afirmava que o Che pensava em lutar no Brasil, ao lado de Leonel Brizola. Sobre isso, ver JEIFETS, Victor; JEIFETS, Lazar. Discúlpanos, Mario: te hemos engañado, eran las palabras del Ché: la entrevista con Mario Monje Molina. Pacarina del Sur: revista de pensamiento crítico latinoamericano, ano 5, n. 21, out-dez. 2014. Disponível em: https://ecumenico.org/disculpanos-mario-te-hemos-enganado. Acesso em: 14 jul. 2025.
[42] BERTOLINO, Osvaldo. Maurício Grabois: uma vida de combates (2 ed.). São Paulo: Fundação Maurício Grabois/Anita Garibaldi, 2012. p. 539.
[43] ROLLEMBERG, Denise. O apoio de Cuba à luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2001. p. 35.
[44] PERICÁS, Luiz Bernardo. Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia. 2 ed. São Paulo: Xamã, 2008. p. 63.
[45] CHE GUEVARA. Diário da guerrilha boliviana. São Paulo: Edições Populares, 1987. p. 72.
[46] TAIBO II, Paco Ignácio. Ernesto Guevara, também conhecido como Che. São Paulo: Scritta, 1997, p. 611. De acordo com Claudinei Cássio de Rezende, “ainda em dezembro de 1967, a primeira turma de guerrilheiros da Ala Marighella vai ao treinamento em Cuba. Seguiram-se ainda mais duas turmas dentro de um ano e meio. Nesse período, um movimento nacionalista composto em sua maioria por militares de baixa patente empreende a frustrada Guerrilha de Caparaó. Ao mesmo tempo, o Comitê Central do PCB manifestaria em sua Resolução política, de dezembro de 1967, o apoio à Revolução Cubana, mas sem o apelo à luta armada que, pelo contrário, faz ainda do PCB um bastião da defesa da revolução pacífica. Por isso mesmo, a manifestação pecebista acerca da revolução em Cuba era uma reiteração da linha do partido soviético e de sua política internacional, como se vê em seus documentos”. (REZENDE, Claudinei Cássio de. Suicídio revolucionário: a luta armada e a herança da quimérica revolução em etapas. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010, p. 73).
[47] DEBRAY, Régis. A guerrilha do Che. Lisboa: Assírio e Alvim, 1975, p. 70; VILLEGAS, Harry. Pombo: un hombre de la guerrilla del Che. Havana: Editora Política, 1997, p. 33.
[48] DEBRAY, Régis. A guerrilha do Che. Lisboa: Assírio e Alvim, 1975, p. 70. O francês aparentemente acreditava que faria várias idas e vindas ao acampamento ao longo dos anos. Sobre isso, ver DEBRAY, Régis. Alabados sean nuestros señores: una educación política. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1999, p. 137.
[49] Ver, por exemplo, ROLLEMBERG, Denise. O apoio de Cuba à luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2001. p. 27-37; SAUTCHUK, Jaime. Luta armada no Brasil dos anos 60 e 70. São Paulo: Editora Anita Garibaldi, 1995; SALES, Jean Rodrigues (org.). Guerrilha e revolução: a luta armada contra a ditadura militar no Brasil. Rio de Janeiro: Lamparina/Faperj, 2015; e SALES, Jean Rodrigues. A luta armada contra a ditadura militar: a esquerda brasileira e a influência da revolução cubana. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2007. De acordo com Jacob Gorender, “o MNR pareceu aos cubanos a organização em que deviam apostar. Haviam incentivado e apoiado Julião no plano de instalação de um foco guerrilheiro no Brasil, que sequer chegou a tomar forma. Em 1965, exilados da AP e de outras procedências passaram pelo treinamento guerrilheiro em Cuba, porém daí nada resultou de concreto. Via Montevidéu, efetivou-se a vinculação com o MNR, fornecendo os cubanos diversas formas de apoio, inclusive de treinamento, dentro da concepção foquista como não podia deixar de ser. O apoio ao MNR inseriu-se na estratégia da revolução continental, em que as lutas guerrilheiras de vários países da América do Sul teriam o pivô no destacamento combatente chefiado pelo próprio Che Guevara na Bolívia. [...] Em novembro de 1966, no mesmo mês em que Guevara chegou à Bolívia, 14 candidatos a guerrilheiros ocuparam um ponto elevado e deserto da Serra do Caparaó. Afora três ou quatro civis, os demais eram antigos subalternos das Forças Armadas e um ex-tenente do Exército. [...] O destacamento devia efetuar treinamentos e evitar ser descoberto, antes de iniciar a ação em data ainda distante. Apesar do isolamento completo, não demorou a detecção daqueles elementos estranhos pela Polícia Militar de Minas. Por outro lado, a coesão moral do grupo se deteriorou, nas condições de prolongado isolamento e de inação. Cinco integrantes se retiraram e os restantes desceram a serra e foram presos, no dia 3 de abril de 1967. Quatro dias depois, um reforço de cinco elementos chefiados por Amadeu Rocha, que saiu do Rio e pretendia se juntar ao destacamento de Caparaó, também se viu cercado e aprisionado na região. O foco se extinguiu sem ter dado um único tiro. [...] O fracasso da tentativa de Caparaó decepcionou os cubanos e pôs fim às relações com Brizola. Em julho de 1967, Marighella chegava a Havana e as esperanças cubanas de êxito da guerrilha no Brasil se transferiram para a ALN. Da sua parte, Brizola deu por encerrada a participação pessoal em iniciativas de tipo militar”. (GORENDER, Jacob. Combate nas trevas, a esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada. São Paulo: Editora Ática, 1987. p. 124-125).
[50] Jacob Gorender comenta que “no final de 1968, Mário Alves, no cargo de secretário-geral do PCBR, viajou para Cuba. Obteve dos dirigentes cubanos o reconhecimento do partido e o treinamento guerrilheiro dos seus militantes, mas estes precisariam ser encaminhados por intermédio da ALN. Ficou claro que a liderança cubana considerava a ALN como organização preferencial no Brasil”. (GORENDER, Jacob. Combate nas trevas, a esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada. São Paulo: Editora Ática, 1987. p. 105).
[51] Ver Luiz Bernardo Pericás, “Gianfrancesco Guarnieri e Otávio”, Blog da Boitempo, https://blogdaboitempo.com.br/2023/02/09/gianfrancesco-guarnieri-e-otavio/.
[52] CASTRO, Fidel. A revolução e o Estado. São Paulo: Brasiliense, 1963; Discurso de 2 de janeiro de 1963. São Paulo: Brasiliense, 1963; Três declarações fazem história. São Paulo: Brasiliense, 1962. Ver SUBVERSÃO ainda persiste nas faculdades, afirma promotor. O Estado de S. Paulo, 15 de abril de 1965, p. 15.
[53] Relatório do delegado-adjunto de Ordem Política Sylvio Moraes Bartoletti, s. d.
[54] CHE GUEVARA. A guerra de guerrilhas. Rio de Janeiro: Edições Futuro, 1961.
[55] BUONICORE, Augusto. Che, Cuba e a reorganização do PcdoB. Vermelho: a esquerda bem-informada, 25 set. 2007. Disponível em: http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=1071&id_coluna=10. Acesso em: 14 jul. 2025.
[56] Ibidem.
[57] Por exemplo, Amazonas escreveu os artigos “A verdade sobre Cuba” e “Uma perspectiva nova”, Grabois preparou “Crise cubana e a paz”, Arroyo, “Todo apoio ao povo cubano” e Lincoln Oest, os textos “II Declaração de Havana e as nossas responsabilidades” e “Histórico Triunfo para a América Latina”. Ibidem.
[58] SALES, Jean Rodrigues. Entre a revolução e a institucionalização: uma história do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). São Paulo: Edusp, 2020, p. 144-145.
[59] Ibidem, p. 145. Para Sales, “o modelo de guerra popular prolongada se cristaliza de forma definitiva nas formulações do PCdoB a partir da publicação, em janeiro de 1969, de Guerra Popular: caminho da luta armada no Brasil. Segundo Jacob Gorender, essa resolução rompe com o ‘dualismo estratégico’ presente no documento da VI Conferência Nacional, tendo em vista que deixa de lado as preocupações com a redemocratização do país por meio da tática de frente popular e se dedica exclusivamente à luta armada”. (Ibidem, p. 157).
[60] Ibidem, p. 145. Segundo Jean Rodrigues Sales, “temos o grupo formado pelo PCdoB e suas cisões PCdoB-AV e PCR, que reivindicariam oficialmente o maoismo como exemplo revolucionário, ainda que, principalmente no caso das cisões, mesclando-o com muitos aspectos do foquismo”. (Ibidem, p. 151). Para Sales, “chama a atenção a convivência de ideias castristas com o ideário maoista, o que também caracterizou o PCdoB em seus primeiros anos”. (Ibidem). Jacob Gorender, por sua vez, diria, em relação ao “documento programático-doutrinário” da Ala Vermelha, do final de 1967: “Carregado de terminologia maoista, o principal objetivo do documento consistiu na justificação da luta armada imediata. A justificação é fornecida pela teoria do foco. Sob a argumentação de que a preparação política das massas camponesas se tornou impossível nas condições fortemente repressivas da ditadura militar, não se vê outro caminho senão o de começar com um pequeno contingente organizado em absoluta clandestinidade e ao qual caberá a implantação do foco revolucionário no campo, para depois ganhar as massas camponesas. A teoria do foco põe à mão a receita aparentemente viável para quem tem pressa de entrar em ação. O documento da Ala Vermelha se singulariza pela conciliação entre a guerra popular e o foquismo. No final das contas, realiza uma colagem mal disfarçada”. (GORENDER, Jacob. Combate nas trevas, a esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada. São Paulo: Editora Ática, 1987, p. 110).
[61] SALES, Jean Rodrigues, 2020, op. cit. p. 158.
[62] ROLLEMBERG, Denise. O apoio de Cuba à luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2001. p. 40.
[63] RESOLUÇÃO política do VI Congresso. In SEGATTO, José Antonio. Breve história do PCB. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1989. p. 119.
[64] MORAES, Dênis de; VIANA, Francisco. Prestes, lutas e autocríticas. Rio de Janeiro: Mauad, 1997. p. 235-6.
[65] CHAVES NETO, Elias. Cuba. Revista Brasiliense, n. 30, jul.-ago. 1960, p. 1-9; Cuba e a América Latina. Revista Brasiliense, n. 32, nov.-dez. 1960, p. 49-58; A revolução cubana. Revista Brasiliense, n. 34, mar.-abr. 1961, p. 84-95; Cuba, no III aniversário da vitória da revolução. Revista Brasiliense, n. 39, jan.-fev. 1962, p. 37-43; A beira do abismo. Revista Brasiliense, n. 44, nov.-dez. 1962, p. 15-20; Paz para Cuba. Revista Brasiliense, n. 45, jan.-fev. 1963, p. 1-6.
[66] FARIA, Álvaro de. A revolução cubana no seu 2o aniversário. Revista Brasiliense, n. 33, jan.-fev. 1961, p. 82-4.
[67] OS INTELECTUAIS cubanos unidos na obra da cultura do serviço do povo e da revolução. Revista Brasiliense, n. 34, mar.-abr. 1961, p. 96-8.
[68] CAMPOS, Dácio de Arruda. Cuba e o princípio da soberania. Revista Brasiliense, n. 36, jul.-ago. 1961, p. 94-9.
[69] DUTRA, Hélio. Uma carta de Cuba. Revista Brasiliense, n. 38, nov.-dez. 1961, p. 70-6.
[70] HADDAD, Jamil Almansur. Romanceiro cubano. Revista Brasiliense, n. 30, jul.-ago. 1960, p. 13; Guillén no Brasil. Revista Brasiliense, n. 38, nov.-dez. 1961, p. 77.
[71] FEBROT, Luiz Izrael. Cuba, ano 4 (impressões de viagem e anotações de leitura). Revista Brasiliense, n. 43, set.-out. 1962, p. 62-95.
[72] DUTRA, Hélio. Querida ilha. São Paulo: Edições Mandacaru, 1988.
[73] ESCOSTEGUY, Jorge. Cuba hoje: 20 anos de revolução. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1978.
[74] BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cuba de Fidel: viagem à ilha proibida. São Paulo: Livraria Cultura Editora, 1978.
[75] ALVES, Márcio Moreira. Suor e alegria: os trabalhadores em Cuba. Lisboa: Seara Nova, 1975.
[76] CALLADO, Antonio. Passaporte sem carimbo. Rio de Janeiro: Avenir, 1978.
[77] TAVARES, Flávio. O Che Guevara que conheci e retratei. Porto Alegre: RBS Publicações, 2007.
[78] TENÓRIO, Carlos Alberto. O senhor de todas as armas. Rio de Janeiro: Mauad, 1996.
[79] NEPOMUCENO, Eric. Cuba: anotações sobre uma revolução. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1981.
[80] MORAIS, Fernando. A ilha. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1976.
[81] FREI BETTO. Fidel e a religião. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.
[82] Ver “Caio Graco Prado, director de la Editora Brasiliense, editor del libro Fidel y la religión”, Casa de las Américas, Havana, 19 fev. 1986; e FREI BETTO, Fidel e a religião, p. 20-21.
[83] LÖWY, Michael. La pensée de Che Guevara. Paris: Librarie François Maspero, 1970.
[84] BAMBIRRA, Vânia. La revolución cubana: una reinterpretación. México: Editorial Nuestro Tiempo, 1974. O livro foi publicado recentemente no Brasil: BAMBIRRA, Vânia. A revolução cubana: uma reinterpretação. São Paulo: Expressão Popular, 2024.
[85] FERNANDES, Florestan. Da guerrilha ao socialismo: a revolução cubana. São Paulo: TAQ, 1979.
[86] COGGIOLA, Osvaldo (org.). Revolução cubana: história e problemas atuais. São Paulo: Xamã, 1998.
[87] BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. De Martí a Fidel: a revolução cubana e a América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
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[89] CARVALHO, Piedade. Che: a poética do combate. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993.
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[91] GRANADO, Alberto. Com Che Guevara pela América do Sul. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.
[92] CHE GUEVARA. Outra vez: diário inédito da segunda viagem pela América Latina, 1953-1956. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
[93] FERRER, Carlos “Calica”. De Ernesto a Che: a segunda e última viagem de Guevara pela América Latina. São Paulo: Editora Planeta, 2009.
[94] AGÜERO, Frank. Diario del Che en Bolivia: documento que recorre el mundo aprisa. Publicado originalmente em Juventud Rebelde, Havana, 8 out. 1968, e reproduzido em RODRÍGUEZ, Rolando. Una edición memorable: el diario del Che en Bolivia. Santa Clara: Editorial Capiro, 2007. p. 100.
[95] CHE GUEVARA. Diário de um combatente. São Paulo: Planeta, 2012.
[96] CASTAÑEDA, Jorge G. Che Guevara: a vida em vermelho. São Paulo: Companhia das Letras, 1997; ANDERSON, Jon Lee. Che Guevara: uma biografia. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1997; e TAIBO II, Paco Ignácio. Ernesto Guevara, também conhecido como Che. São Paulo: Scritta, 1997.
[97] Ver, por exemplo, CADERNOS de estudos ENFF, O legado de Che Guevara. Guararema: Escola Nacional Florestan Fernandes, 2007.
[98] Ver TAIBO II, Paco Ignácio. Ernesto Guevara, também conhecido como Che. São Paulo: Expressão Popular, 2008; e LÖWY, Michael. O pensamento de Che Guevara. São Paulo: Expressão Popular, 1999.
- Resumo
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Nesse texto, Luiz Pericás apresenta o impacto da Revolução Cubana na esquerda brasileira.
- Abstract
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In this text, Luiz Pericás presents the impact of the Cuban Revolution on the Brazilian left.
Comitê de Redação: Adriana Marinho, Clara Schuartz, Gilda Walther de Almeida Prado, Giovanna Herrera, Marcela Proença, Rosa Rosa Gomes.
Conselho Consultivo: Carlos Quadros, Dálete Fernandes, Felipe Lacerda, Fernando Ferreira, Frederico Bartz, Lincoln Secco, Marisa Deaecto, Osvaldo Coggiola, Patrícia Valim.
Publicação do GMARX (Grupo de Estudos de História e Economia Política) / FFLCH-USP
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