Ano 3 nº 17/2022: Notícias de pesquisa - O Fascínio da Senhorita Jean Brodie | Parte 2 - Gilda Prado

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Notícias de pesquisa ...

 

O FASCÍNIO DA SENHORITA JEAN BRODIE:

Mulheres, modernidade e fascismo em “The Prime of Miss Jean Brodie”

 

Gilda Walther de Almeida Prado

Bacharel em História - USP

 

Obs: esta publicação é a continuação do texto publicado no boletim nº 16, ano 3

 

Parte II

 

O fascínio do fascismo

 

Para além da aliteração, a noção de “fascínio”, introduzida pela professora estadunidense Judy Suh, da Universidade de Duquesne, em seu artigo de 2007 “The Familiar Attractions of Fascism in Muriel Spark's The Prime of Miss Jean Brodie”,[1] tornou-se uma premissa orientadora durante a elaboração desta pesquisa.

Por um lado, a fascinação é uma importante ferramenta utilizada pela professora em sala de aula, posando e deixando-se admirar enquanto tece, com dedicação, a imaginação atenta das alunas nos caminhos de suas ideias sobre História, Arte, romance, sexo e a sua vocação: “Vocês, meninas, são a minha vocação.”[2] Por outro, podemos aproximar fascínio de “deslumbramento”, que remete à visão ofuscada de algo. Nas aulas da senhorita Jean Brodie, os fascisti marcham ao lado das noções clássicas de heroísmo, destino e sacrifício sobre as quais ela declama através das histórias de Helena de Tróia e de Joana D’Arc. Seu interesse pelas formações de camicie nere que viu na Itália, pelo seu querido Duce e sua nobre herança romana foi definido como uma excentricidade tanto internamente na narrativa – através do desprezo de Sandy e o cinismo do senhor Lloyd – quanto por críticos e teóricos literários, citados diretamente por Suh, que desconsideram o seu fascismo como um acidente ou uma simples extensão de seu narcisismo, resultado da ignorância e ingenuidade em relação à realidade da vida sob a autoridade de Benito Mussolini.

O desafio proposto por The Prime of Miss Jean Brodie depende do nosso impulso em subestimar a sua admiração estética e romântica do mito fascista, e o artigo de Judy Suh procura guiar essas leituras em direção a uma compreensão mais aprofundada deste comentário político, sugerindo que

 

“(...) ao focar no “fascínio” do fascismo, Spark rejeita uma análise jurídica que ignoraria a atratividade do fascismo para potenciais constituintes em democracias liberais, assim como a sua preocupante persistência no período pós-guerra.”[3]

 

Sua análise evidenciou a perspectiva privilegiada de Prime para um estudo da influência do fascismo nas suas margens. Suh escreve sobre o interesse de Muriel Spark pelo que chama de “underlings”, ideia que aproximaremos do termo gramsciano “subalternos”. Trata-se deste mundo de mulheres, estudantes, jovens e “solteironas” que habitam sua história. A Escola Marcia Blaine, longe do que o senso comum consideraria um antro de pensamento fascista, representa em si mesma um universo de autoridade e auto-vigilância, um “sistema fechado” onde o controle da narrativa está praticamente exclusivamente nas mãos de personagens femininas.

As mulheres são encaixadas com muita naturalidade por grande parte da historiografia sobre a ascensão do autoritarismo nos anos 1920 e 30 na categoria de “fascistas inocentes”, aquela massa amorfa de seguidores e seguidoras com um conhecimento pouco sofisticado da máquina fascista e que a História pode perdoar ao remover por completo a sua agência na construção e manutenção da mesma. Segundo Maria Antonietta Macciocchi, que foi correspondente para o jornal l’Unità, fundado por Antonio Gramsci em 1924, e que é citada pelo artigo de Judy Suh, o pensamento feminista se priva do seu próprio contexto histórico ao ignorar o “consentimento” das mulheres ao fascismo. Consideramos que o conflito central da adaptação cinematográfica de The Prime of Miss Jean Brodie trabalha dentro deste “vácuo histórico”[4] ao entrelaçar uma narrativa de atravessamento da infância, adolescência e a formação da mulher em Sandy Stranger – que naturalmente trará temas de identidade, autonomia e sexualidade – com a gradual descoberta e ressignificação da perigosa política da senhorita Brodie. Assim, o filme se ocupa deste grupo subalterno de garotas escocesas enquanto navegam pelo status quo escolar, conservador e patriarcal. Mais importante, é uma obra interessada nas tantas mulheres que atribuíram ao movimento fascista uma excitante capacidade de rebelião contra o tradicional destino feminino a elas reservado.

É neste ponto em que os estudos subalternos de Gramsci fazem sua entrada no caminho de nossa análise. Segundo o professor Lincoln Ferreira Secco, da Universidade de São Paulo,

 

“Para estudar a história dos subalternos Gramsci propõe determinados passos na pesquisa: formação objetiva dos grupos subalternos no mundo da produção econômica; sua mentalidade; reivindicações; tentativas de influenciar os grupos dominantes etc.”[5]

 

Apesar de breve, o artigo de Judy Suh passa por todos estes pontos em relação às mulheres de The Prime of Miss Jean Brodie, revelando tanto o papel iluminador da personagem titular para a realidade histórica da mulher fascista na Grã Bretanha, quanto as formas como Spark impregna no método pedagógico da professora alusões a estratégias de dominação e de formação de identidade do fascismo.

Neste sentido, nossa abordagem do filme procurou orientar-se por elementos da análise de Judy Suh sobre o livro de Muriel Spark, mas atendo-se sempre à forma como a adaptação audiovisual, ao mesmo tempo em que omite e reorganiza grande parte do romance, adiciona novas camadas de significado sobre a narrativa. Acima de tudo, Jean Brodie tornou-se uma figura guia para um estudo daquele fascismo que não depende exclusivamente da ordem de um passado glorioso, mas que se legitima usando as vestes de um novo mundo moderno. Este aspecto se torna especialmente importante quando pensamos no papel ativo das mulheres britânicas na construção da ideologia e discurso fascista a partir da década de 1920, e requer, portanto, uma pesquisa aprofundada que contribua para devolver ao pensamento feminista o contexto histórico do qual falava Maria Antonietta Macciocchi.

 

Periodização

 

É fundamental estabelecer uma cronologia do período em questão, uma linha de amadurecimento e desenvolvimento da participação, composição e contribuição de mulheres ao pensamento fascista na Grã-Bretanha sobre a qual analisaremos os temas já introduzidos pela ficção de The Prime of Miss Jean Brodie.

Nos baseamos na periodização da professora Julie V. Gottlieb, da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, realizadora de uma das mais completas pesquisas sobre o ativismo feminino nos vários movimentos de inspiração fascista que surgiram no país a partir da década de 1920 em seu livro Feminine Fascism: Women in Britain's Fascist Movement: 1923-1945. Neste, ela descreve um ciclo de vida em cinco fases: um período gestacional representado pela British Fascisti (março de 1929 a outubro de 1932); a fundação da British Union of Fascists pelo ex-parlamentar Oswald Mosley (1896-1980) que, segundo a autora, recebeu a atenção de um promissor recém-nascido (outubro de 1932 a 1934); sua adolescência, marcada por um acirramento da natureza violenta, misógina e do antisemitismo fascista que reflete no rebaixamento de posição das membras remanescentes da B.U.F., tendo muitas outras sido empurradas para fora da organização por completo (junho de 1934 a 1937); um período que Gottlieb chama de “paternidade”, que vê a retomada da visibilidade das mulheres fascistas através de uma valorização da defesa da família frente à perspectiva de guerra na Europa (1938 a maio de 1940); e, por fim, uma “segunda infância” é imposta pela postura ativa do governo no combate ao avanço do fascismo no seu território, enfim banindo a British Union of Fascists e aprisionando Oswald Mosley, entre outros líderes do movimento, segundo o Regulamento de Defesa 18B, vigente durante a Segunda Guerra Mundial.[6]

Em sua forma sintética, a evolução em cinco etapas de Gottlieb nos permitiu aliar uma exposição necessária do contexto de criação e desenvolvimento da ideologia fascista nos contornos específicos que assumiu na Grã-Bretanha ao destaque temático de identificar as mulheres do fascismo, suas visões de mundo, seu passado e sua articulação dentro da parte que lhes coube em um movimento de evidente protagonismo masculino.

 

Historiografia

 

Embora tenha sido comparativamente pequena e pouco relevante do ponto de vista de sua representatividade nas instituições governamentais, é ampla a historiografia sobre a maior organização fascista da Grã-Bretanha, a British Union of Fascists (em português, União Britânica de Fascistas, ou B.U.F.), fundada em 1932 pelo ex-membro do Partido Conservador (1918-1922), ex-parlamentar e ex-chanceler pelo Partido Trabalhista (1924-1931) e muitas vezes político independente, o senhor Oswald Ernald Mosley. Julie V. Gottlieb se pergunta sobre este persistente interesse na introdução de Feminine Fascism, e demonstra o papel que a visibilidade das mulheres da B.U.F. – assim como a sua “audibilidade”, sua contribuição intelectual e propagandística ao movimento – teve para este fenômeno.

A autora identifica um fascinante contraste entre o fascismo britânico e o senso comum sobre a Grã-Bretanha no período dominado pela imagética da Grande Depressão. Segundo Gottlieb,

 

“Na esfera política, este foi um período caracterizado pelo fracasso de políticos um tanto monótonos em criar qualquer desvio no rumo a uma segunda guerra mundial e alimentar, seja com esperança ou com pão, as fileiras de homens e mulheres desesperados em filas de auxílio do governo.”[7]

 

Já o fanatismo fascista levantado por Oswald Mosley era “extraordinário” e “tremendo”, como descreve artigo jornalístico publicado no The Guardian sobre a comemoração do aniversário de quatro anos da British Union of Fascists.[8] Multidões em “completa exaltação” marcharam no dia 4 de outubro de 1936 pelo bairro de East End, em Londres, que naquela época era habitado por uma grande população judaica. Esta data ficou conhecida pela História como a Batalha de Cable Street, onde ocorreu o choque entre os blackshirts (os camicie nere de Mosley), os cerca de seis mil agentes da Polícia Metropolitana convocados para proteger o ato e estimados 250 mil contra-manifestantes compostos por antifascistas, sindicalistas, comunistas, membros e líderes na comunidade judaica, tanto organizados como não organizados. O artigo do The Guardian dedica uma sessão para reportar a estréia de novo uniforme para o Líder da Union, abandonando a sua simples camisa preta de gola alta e cinto de couro em favor de farda e chapéu militar de óbvia inspiração nazista, completa com botas de montaria e braçadeira vermelha. A Lei de Ordem Pública de 1936 foi assinada pelo Parlamento britânico alguns meses depois do confronto, proibindo o uso de uniformes associados com movimentos políticos em público.

O movimento de Mosley se posiciona de forma antitética em relação a paralisia – ou, para usar uma palavra que a senhorita Brodie usaria, a “petrificação” – dos outros partidos políticos do período, rodeando-se de um espírito público de violência efervescente e provocação estética.

A outra instigante discrepância que promove um destaque à B.U.F., do ponto de vista da historiografia, é justamente a participação feminina. O entre guerras é retratado em muitos meios como um período de recúo das mulheres da vida política, pelo menos em parte em decorrência do enfraquecimento do movimento feminista após a conquista do sufrágio. Gottlieb contesta essa noção demonstrando que as sufragistas, longe de representarem um grupo de pensamento monolítico, mantiveram o momentum feminista em distintos campos da esfera política, e em particular através do esforço antifascista. Escritoras e intelectuais formadas no interior do feminismo de primeira onda como Virginia Woolf[9], por exemplo, reagiram ao tratamento das mulheres na Alemanha com a consciência de que a continuidade da sua luta por igualdade econômica e política dependia da defesa das instituições democráticas.

Essa afirmação é indispensável, no entanto, o objeto da presente pesquisa permanece no outro lado desta moeda, e adiante seguiremos de encontro ao paradoxo das ex-ativistas do sufrágio feminino que aliaram-se ao projeto fascista. As lady blackshirts, como chama a autora Rosemary L. Caldicott,[10] sufragettes ou não sufragettes, viram na organização uma oportunidade de dar continuidade à libertação feminina, de criar uma nova feminilidade que se opusesse ao status quo burguês, liberal e democrata e que honrasse o espírito militante estimulado pela própria campanha feminista do começo do século.

 

Rotha Lintorn-Orman e o primeiro fascismo da Grã-Bretanha

 

A primeira organização fascista britânica foi fundada por uma mulher. A senhorita Rotha Beryl Lintorn-Orman (1895-1935) trabalhava no jardim de sua fazenda em Somerset, no sul da Inglaterra, onde passou a viver depois de ter sido dispensada com malária do serviço militar na Sérvia, em 1917, e refletia sobre o anúncio recente de que o Partido Trabalhista britânico havia mandado uma delegação para participar de conferência do Partido Socialista em Hamburgo, na Alemanha. A notícia figurava a sua maior aversão, o internacionalismo, e a sua maior ansiedade, a ameaça apresentada pelo avanço do bolchevismo, e ela foi inspirada à ação. No dia 6 de maio de 1923, Lintorn-Orman fundou a British Fascisti (B.F.), acompanhada por alguns “patriotas desinteressados”,[11] segundo Julie Gottlieb, membros da classe média e alta rural e anticomunistas de tipos e estratos diversos, e sustentada financeiramente pela sua mãe, Blanche.

Embora Gottlieb não considere a B.F., de um ponto de vista organizacional e ideológico, como um antepassado direto da mais expressiva British Union of Fascists, o caso de Rotha Lintorn-Orman nos é muito interessante na singularidade da sua origem assim como nos aspectos que provavelmente levaram ao seu declínio. O principal destes é indissociável da própria fundadora e de sua notoriedade particular.

Herdeira de uma tradição familiar militarista, a senhorita Lintorn-Orman foi integrante das Girls Scouts aos quatorze anos de idade, e o escotismo é uma inspiração da qual a B.F. tem demonstrável orgulho. R.B.D. Blakeney, presidente da organização entre 1924 e 1936, descreve o seu fascismo como uma versão adulta do Movimento de Escoteiros: “Ambos defendem os mesmos nobres ideais de fraternidade, serviço e dever.”[12] O interesse da Fundadora por grupos uniformizados é uma constante em sua biografia, e o seu tempo de atuação como motorista de ambulância e depois em serviço na Primeira Guerra Mundial pela Scottish Women’s Hospital Corps (em português, Corpo Hospitalar das Mulheres Escocesas) a insere dentro de um outro fenômeno fundamental do período entre guerras que são os milhares de homens e mulheres que retornam às suas casas na Inglaterra, Irlanda e Escócia carregando a paranoia, trauma, dependências químicas e questões psicológicas adquiridas na experiência de guerra.

Segundo múltiplos relatos, Rotha Lintorn-Orman era uma figura peculiar. Considerada pela polícia local como uma agitadora pública, existiram muitas instâncias em que familiares e amigos próximos demonstraram preocupação que membros da B.F. estariam instigando os seus vícios em álcool e outras drogas no intuito de extrair uma parte de sua fortuna. Com uma preferência por roupas masculinas, gravatas e sobretudos militares (Figura 2), a sua reputação inclusive entre a Extrema Direita está alinhada com a ansiedade geral do período sobre as “mulheres excedentes”, as “solteironas” criadas pela Grande Guerra. As mulheres “redundantes”, como diria o filósofo da misoginia Anthony Mario Ludovici.[13] De fato, “redundância” é uma ideia importante de destacar pois, como veremos adiante nos desdobramentos do pensamento fascista na Grã-Bretanha a partir e para além da British Fascisti, o feminino repetidamente terá sua existência dentro do movimento justificada através de seu papel coadjuvante e subserviente ao masculino.

Figura 2. Retrato da senhorita Rotha Beryl Lintorn-Orman.

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FONTE: CALDICOTT, R. L., 2017, p. 40.

 

A B.F., que a partir de maio de 1927 adotou o nome mais familiar de British Fascists Ltd., era desestabilizada de dentro para fora pela incompatibilidade entre a espécie de poder feminino ao qual Rotha Lintorn-Orman representava em sua história e aspiração militar e as estruturas e imaginário político aos quais referenciava quando escolheu a palavra em italiano, “fascisti”, para o nome de sua organização. A Fundadora foi alvo de ridicularização ao longo do espectro político, era erroneamente identificada com as sufragistas em reportagens e tem o seu nome escrito de forma incorreta por estudiosos do período. Arnold Spencer Leese (1878-1956), que depois fundou a Imperial Fascist League (em português, Liga Imperial Fascista), afastou-se da British Fascists por não considerá-la “uma verdadeira expressão do fascismo”,[14] sensação que talvez estivesse melhor representada na sua frustração com a recusa pela Fundadora de sua sugestão de mudar a sigla da organização de “B.F.” que, coloquialmente no inglês, significa “bloody fools”, malditos tolos.

A rejeição de Lintorn-Orman não significa que devemos atribuir a sua androginia e excentricidade pessoal uma ideologia de gênero não-tradicional ou moderna. Muito pelo contrário, é possível inferir que o tipo de autonomia que Lintorn-Orman imagina para as mulheres em seu movimento foi tão informada por sua educação militar quanto pela sociedade patriarcal que é a base fundamental do Império que jurou defender:

 

“As mulheres têm poder político! Deixem-nas usá-lo para o país! (..) As mulheres têm superioridade naquilo que é a coisa mais importante na vida – o Lar! Deixem-nas insistir na compra exclusiva de mercadorias britânicas.”[15]

 

Um perfil completo da participação na B.F. é inexistente, pois os registros próprios da organização foram perdidos em saques ou levados por membros desertores, e declarações de seus membros remanescentes variam drasticamente em relação ao número de integrantes. Em Feminine Fascism, Julie Gottlieb analisa as participantes conhecidas e demonstra uma predominância da classe alta rural, mulheres com experiência militar nos territórios ultramarinos do Império, com posse de terra e aristocratas de pouca notoriedade, mas que mantinham títulos como Viscondessas, Baronesas, Marquesas e “Ladys”. Entre as atividades mais bem sucedidas da organização, Gottlieb destaca a Fascist Children’s Club (em português, Clube de Crianças Fascistas, ou F.C.C.), que na década de 1930 tornou-se a principal responsabilidade das mulheres da B.F., e a London Special Patrol (em português, Patrulha Especial de Londres, ou L.S.P.), que oferecia um espaço de camaradagem exclusivamente feminina para as voluntárias.

Na qualidade de um estágio gestacional da relação entre as mulheres e o fascismo na Grã-Bretanha, Julie Gottlieb concebe a visão de Rotha Lintorn-Orman como um “fascismo feminizado, o conteúdo nacionalista e voluntarista silenciando efetivamente os sussuros pela continuidade da emancipação feminina.”[16] Para a British Fascists a organização e independência política feminina tinha expresso objetivo de agir como fundamento ultra-nacionalista em um contexto de guerra contra o comunismo. Neste sentido, é muito mais importante a responsabilidade da mulher com seu “Rei e País”, como dizia o lema estampado nos broches da B.F., do que a conquista de direitos específicos ao seu gênero.

Posto isso em perspectiva, é reconhecível a singularidade da estratégia elaborada pela British Union of Fascists na sua incorporação de demandas e atividades das suas constituintes femininas. Mais importante, porém, é que a B.U.F. atingiu uma coesão ideológica através da liderança de Oswald Mosley que seria impossível para Rotha Lintorn-Orman, não apenas por conta dos seus tormentos psicológicos e morte precoce em 1935, por complicações relacionadas ao alcoolismo, mas essencialmente pela inviabilidade de delinear uma doutrina de supremacia masculina ao redor de uma mulher.

 

As mulheres e a British Union of Fascists

 

"Nós vivemos em um período no qual políticos não são muito populares," começa o senhor Oswald Mosley, em entrevista no dia 26 de maio de 1930 sobre a sua resignação ao cargo de chanceler e saída do Partido Trabalhista, “e acreditem, vocês têm a minha simpatia.” Ele continua: “Políticos são vistos como pessoas que aprenderam a falar, mas não agir. E vocês exigem ação – e a exigem com razão – para lidar com o desemprego.”[17] Depois da tentativa fracassada de lançar o New Party (em português, Partido Novo), fundado nos princípios do seu Memorandum[18] que havia sido rejeitado pelos Trabalhistas mas elogiado por John Maynard Keynes, e uma viagem à Itália na qual ele pode se familiarizar com a política econômica encabeçada por Benito Mussolini, no ano de 1932 Mosley funda a British Union of Fascists.

Popularidade nem é o termo mais adequado neste caso, como já antecipado na introdução a este capítulo: a resposta pública ao senhor Mosley figurou um verdadeiro fanatismo pela sua maioria masculina, certamente, mas também o entusiasmo feminino mostrou-se como uma via de conquista de confiança e criação de lideranças em mulheres cujo ativismo tornou-se cada vez mais fundamental para o movimento. Com efeito, veremos que a B.U.F. criou em seu interior espaços de autonomia e produção ideológica feminina, e é essencial, para citar novamente a abordagem de Julie Gottlieb em Feminine Fascism, distinguir a experiência de participação destas mulheres do relativo desconhecimento das especificidades de suas atividades pelos outros membros. Sobretudo, em nosso recorte da história da British Union of Fascists, a cooptação política de mulheres britânicas pelo fascismo é expressão da “trilha estreita entre a integração e a repressão”[19] que é atravessada, historicamente, quando as demandas da subalternidade demonstram-se como ameaça à ordem social.

Nos primeiros anos da década de 1930, a Grã-Bretanha atingiu cerca de 3 milhões de desempregados, 22-23% da população total, uma escala sem precedentes. Para a maior parte dos cidadãos do país, este foi o marco visível vivenciado da Grande Depressão, e do ponto de vista da economia política, o recuo gigantesco do mercado mundial favoreceu o sentimento de protecionismo e nacionalismo, como explica o historiador Eric Hobsbawn em sua obra A Era dos Impérios (1994).[20] No meio fértil da instabilidade social, a British Union of Fascists vai, assim como fizeram os outros movimentos de extrema-direita na Europa, construir seu discurso e projeto de forma a implicar-se ideologicamente na visão de mundo das suas testemunhas. Considerando que a entrada da mulher na vida pública tornou-se um fator de agravação de tensões sócio-econômicas no entre-guerras, era indispensável que a B.U.F. as incluísse em sua análise.

Martin Durham, professor da Universidade de Wolverhampton, próxima da cidade de Birmingham, e autor de “Women and Fascism” (1998), um dos primeiros livros a debruçar-se sobre o papel da problemática de gênero no fascismo britânico, identifica na questão do trabalho um ponto chave. O trabalho feminino que havia sido fundamental nos anos de guerra agora era visto como uma deformidade frente à massa de homens desempregados que retornavam do serviço no continente. Com apreensão, surgia um sentimento entre trabalhadores e ex-operários de que as mulheres ocupavam espaços que a eles pertenciam, e o valor do homem como sustento econômico da família não é um aspecto que deve ser desconsiderado por nós. Mais importante, porém, era a noção de que os baixos salários pagos às trabalhadoras estariam reduzindo a média nacional e arrastando consigo o resto do mercado de trabalho.[21]

Oswald Mosley e sua British Union elaboraram esta questão da seguinte maneira: em primeiro lugar, os fascistas britânicos defenderam não apenas o direito da mulher ao trabalho fora de casa, mas também o salário igualitário para homens e mulheres e o fim da prática de barreira matrimonial, que restringia oportunidades de emprego à mulheres solteiras. Em Lady Blackshirts, Rosemary Caldicott explica que as publicações da B.U.F. enfatizavam a vitimização da trabalhadora por corporações da “elite capitalista judaica” que a explorava em expedientes desgastantes, perigosos e de remuneração baixa. A defesa do “salário igual para trabalho igual” significaria que a indústria predatória não seria mais atraída à mão-de-obra feminina barateada, promovendo o aumento da disponibilidade de emprego ao homem, assim como o seu salário digno permitiria que a mulher não fosse obrigada a trabalhar para complementar a renda familiar.

Neste sentido, o fascismo britânico cria espaço para a integração de ativistas feministas ao não se mostrar como antagônico aos avanços proporcionados pelo esforço sufragista, ao mesmo tempo em que não rejeita a doutrina de divisão de gênero elementar aos fascismos na Itália e Alemanha, ao sustentar a “natureza” da mulher no mundo privado do Lar e da Família, e do homem no mundo público do trabalho e da política. Membras como a senhorita H. Carrington-Wood, organizadora da B.U.F. na região noroeste de Londres, compreenderam esta movimentação arriscada de retorno aos dias anteriores às suffragettes e muitas escolheram afastar-se da organização. Publicada em 1935 no jornal oficial do grupo, The Blackshirt, uma resposta anônima à carta de resignação de Carrington-Wood dizia:

 

“Quando as mulheres conquistaram o voto, o sistema democrático estava ruindo e caindo em decadência, e elas descobriram que o direito de colocar um ‘x’ em uma cédula eleitoral uma vez a cada cinco anos era apenas uma nova e pior forma de escravidão tanto para homens como para mulheres.”[22]

 

Ainda segundo Durham, é relevante que a eleição que levou à malfadada vitória do Partido Trabalhista em 1929 tenha sido a primeira na qual mulheres de idade superior a 21 anos puderam votar. Neste período decisivo, as mulheres já haviam alcançado algum espaço e compunham números consideráveis tanto no Partido Conservador quanto à sua esquerda. Retomando a ideia introduzida anteriormente, que as suffragettes tivessem se fragmentado e seguido rumos distintos não significa que a memória do sentimento de mudança, das conquistas e ideias feministas pré-Primeira Guerra Mundial tivesse sido esquecida.

Antes, e contrariamente às ideias preconcebidas que temos sobre os movimentos autoritaristas da época, o fascismo britânico dizia-se em continuidade ao feminismo em representar o caminho para que as mulheres obtivessem “igualdade absoluta de representação, uma verdadeira voz no governo do país” [23], nas palavras da senhorita Anne Brock-Griggs, oficial de propaganda da B.U.F. e a primeira palestrante feminina em um comício da organização no dia 18 de fevereiro de 1936.

Talvez seja ainda mais relevante aos nossos propósitos com a presente pesquisa que existiam características de organização, ação e recepção pública que aproximassem as ativistas do sufrágio feminino aos seguidores do senhor Oswald Mosley. Um exemplo trazido por Martin Durham é no debate travado entre as mulheres do Partido Conservador e a ex-membra Norah Elam (1878-1961), suffragette irlandesa presa três vezes por “terrorismo” na década de 1910, uma das primeiras e mais proeminentes membras da B.U.F. na sua Women’s Section (em português, Seção de Mulheres) e frequente colaboradora no The Blackshirt. Elam escrevia que as feministas conservadoras – que chamava de “Circo Antifascista” – se opunham ao fascismo com as mesmas acusações que haviam sido usadas contra o próprio movimento sufragista: “que ele causava desinquietação e perturbava a lei e a ordem”.[24]

Um sentimento semelhante também aparece no depoimento de Louise Irvine (nascida Louise Fischer, em 1915, na cidade de Chester), que compareceu à sua primeira reunião da British Union of Fascists durante o seu segundo ano de faculdade em Crewe, onde estudou Letras e História, e foi líder da Women’s Section do distrito de Birmingham entre 1936 e seu aprisionamento sob o Regulamento de Defesa 18B em novembro de 1940. Em carta para a autora Julie Gottlieb, Irvine explica:

 

“Subconscientemente quando entrei eu posso ter sentido que estava fazendo uma defesa da independência de pensamento – até que estivesse fazendo algo ousado e fora da caixa.”[25]

 

Louise Irvine foi solta no dia 10 de novembro de 1941 e retornou a Birmingham onde continuou trabalhando como professora. Em janeiro de 1992 ela foi uma das oradoras em jantar de homenagem à memória das mulheres da B.U.F. organizado pelo grupo Friends of Oswald Mosley (em português, Amigos de Oswald Mosley, também conhecido por Friends of O.M.), fundado em 1982.

Assim como no caso da British Fascisti de Rotha Lintorn-Orman, grande parte do registro de filiação da British Union of Fascists foi perdido, apreendido pela polícia durante a Segunda Guerra Mundial e destruído, ou nunca publicado pela própria organização, que operava sob lógica revolucionária. Tampouco podemos confiar nas alegações das lideranças. Julie Gottlieb utiliza estudo elaborado por G.C. Webber em 1984[26] com base nas estimativas realizadas pela Special Branch (em português, Seção Especial) da Polícia Metropolitana, que fez um acompanhamento do movimento a partir de 1934. A autora propõe um quadro que ilustra, ao menos parcialmente, a configuração de gênero da B.U.F. a partir da participação de homens e mulheres em reuniões ocorridas entre 1934 e 1940 (Tabela 1).

 

Tabela 1: Proporção de mulheres em reuniões da British Union of Fascists

Data

Local

Homens

Mulheres (%)

9 de setembro, 1934

Londres

3.000

450       (13%)

3 de março, 1935

Londres

540

160       (23%)

7 de maio, 1936

Victoria Park

1.120

180       (14%)

7 de junho, 1936

Londres

1.400

260       (16%)

2 de maio, 1937

Londres

800

250       (24%)

5 de julho, 1937<

Trafalgar Square

1.900

360       (16%)

4 de outubro, 1937

Brixton

2.770

630       (19%)

19 de abril, 1940

Londres (reunião do grupo Women’s Peace)

100

800       (89%)

FONTE: GOTTLIEB, J. V., 2000. p. 47.

FONTE: GOTTLIEB, J. V., 2000. p. 47.

 

Gottlieb finaliza o livro Feminine Fascism com um apêndice que contém breves biografias e anedotas sobre as mulheres da British Fascisti, British Union of Fascists e outras organizações de inspiração fascista no entre-guerras.[27] A partir deste importante recurso, conseguimos elencar algumas características que possivelmente teriam sido relevantes na formação da sua atração comum ao fascismo.

Em primeiro lugar, apesar de que um grande contingente de membros da B.U.F. fossem pessoas com pouco conhecimento e interesse político, motivadas por queixas de todos os tipos e atraídas pela proposta de alternativa política e pelo carisma e glamour pessoal do Líder, o senhor Oswald Mosley, Gottlieb reconhece que parte considerável das mulheres da B.U.F. vinham de alguma vivência de ativismo político. A British Union também cumpria um importante papel social, oferecendo, ao mesmo tempo, uma comunidade e identidade feminina reforçada pelo destaque dado às mulheres uniformizadas em atos públicos (Figura 3), e um espaço de socialização onde jovens moças conheceram seus futuros maridos, casais dedicavam-se juntos à causa e mulheres solteiras e viúvas encontraram uma espécie de “segunda família”. Em terceiro lugar, um componente importante na história de muitas dessas mulheres foi a perda de familiares e parceiros durante a Grande Guerra ou, como vimos no caso da Fundadora da B.F., a senhorita Lintorn-Orman, tinham experiência direta de apoio emergencial durante os combates.

Figura 3 Oswald Mosley inspeciona um grupo de membras mulheres em demonstração da British Union of Fascists no dia 1 de janeiro, 1936

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FONTE: Hulton Deutsch / Corbis Historical

 

Neste capítulo procuramos evidenciar as tensões internas entre a estrutura misógina, racista e autoritária idealizada pelo fascismo britânico e o seu uso e integração do fanatismo e participação feminina. Por um lado, Julie Gottlieb vê uma certa ironia que os homens dirigentes da organização fizessem um convite aberto às mulheres para ajudá-los a construir uma Grã-Bretanha mais masculina e, efetivamente, participar do “expurgo do feminino do comportamento político”.[28] Por outro, é fundamental contextualizar as motivações que levaram tantas mulheres a aceitar por completo e sem coerção tal ideologia repressiva. Na sequência, traçaremos nosso retorno ao filme The Prime of Miss Jean Brodie e sua misteriosa figura central, suas contradições e incoerências agora possíveis de serem analisadas também de um ponto de vista histórico.

 

[1] SUH, J. The Familiar Attractions of Fascism in Muriel Spark's "The Prime of Miss Jean Brodie". In. Journal of Modern Literature Vol. 30, No. 2 (Winter, 2007), pp. 86-102.

[2]  “You girls are my vocation.” THE PRIME OF MISS JEAN BRODIE, 1969. (tradução nossa)

[3] “(...) in focusing on the “fascination” of fascism, Spark rejects a juridical analysis that would ignore fascims's attractiveness to potential constituents within liberal democracies, as well as its troubling persistence in the postwar period.” SUH, J. 2007, p. 87. (tradução nossa)

[4] MACCIOCCHI, M.A. "Female Sexuality in Fascist Ideology." In. Feminist Review 1 (1979): p. 67. Apud. SUH, J. 2007, p. 88.

[5] SECCO, L. Gramsci: a gênese dos Estudos Subalternos. In. Revista de Política Públicas da UFMA, v. 22, p. 382, 2018.

[6] GOTTLIEB, J. V. Feminine Fascism: Women in Britain's Fascist Movement: 1923-1945. Londres: I. B. Tauris, 2000.

[7] “In the political sphere, this was a period characterized by rather colourless politicians' failure to create any diversion on the road to a second world war and to feed, either with hope or with bread, the columns of desperate men and women in dole queues.” GOTTLIEB, J. V., 2000. p. 3. (tradução nossa)

[8] Fascist march stopped after disorderly scenes. The Guardian, Londres, 05/10/1936.

[9] WOOLF, V.  A Room Of One's Own. Londres: Hogarth Press, 1929.

[10] CALDICOTT, R. L. Lady Blackshirts: The Perils of Perception – suffragettes who became fascists. Bristol: Bristol Radical History Group. 2017.

[11]  “disinterested patriots” GOTTLIEB, J. V., 2000. p. 11. (tradução nossa)

[12] “Both uphold the same lofty ideals of brotherhood, service and duty.” R.B.D. B. British Fascism, The Nineteenth Century (janeiro de 1925), 132-42. Apud. GOTTLIEB, J. V., 2000. p. 13. (tradução nossa)

[13] LUDOVICI, A. M. Woman: A Vindication. Londres: CONSTABLE & CO., 1929. p. 231. Apud. GOTTLIEB, J. V., 2000. p. 17.

[14] “a true expression of fascism” GOTTLIEB, J. V., 2000. p. 17. (tradução nossa)

[15] “Women have political power! Let them use it for the country! (...) Women have superiority in the most essential thing of life - the Home! Let them insist on the purchase of British goods only.” LINTORN-ORMAN, R. Women’s Loyalty. In. British Fascism, n° 4, 1934. Apud. GOTTLIEB, J. V., 2000. p. 21. (tradução nossa)

[16] “fascism feminized, the nationalist and selfless content effectively silencing the whispers for women’s further emancipation.” GOTTLIEB, J. V., 2000. p. 21. (tradução nossa)

[17] “We live in a period in which politicians are not very popular, and believe me, you have my sympathy. Politicians are regarded as people who have learned to talk, but not to act. And you demand action – and rightly demand it – in dealing with unemployment.” BRITISH MOVIETONE. Sir Oswald Mosley Speaks on Unemployment. The Cause of His Resignation. YouTube, 21/06/2015. (tradução nossa)

[18] MOSLEY, O. (1931) A National Policy. London: MacMillan and Co. Ltd. 1931. Ficou conhecido como Mosley Memorandum (em português, Memorando Mosley).

[19] SECCO, L., 2018. p. 378.

[20] HOBSBAWM, Eric. Capítulo 3: Rumo ao abismo econômico. In. Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

[21]  DURHAM, M. Gender and the British Union of Fascists. In. Journal of Contemporary History Vol. 27, No. 3 (Jul., 1992). p. 514.

[22] “By the time women were given the vote, the democratic system was crumbling and falling into decay, and they found that the right to put a crossi upon the ballot paper once in five years, was merely a new and worse form of slavery for both men and women.” The Blackshirt, 2 de fevereiro de 1935. p. 8. Apud. CALDICOTT, R. L., 2017, p. 54. (tradução nossa)

[23] “absolute equality of representation, a true voice in the government of the country” CALDICOTT, R. L., 2017, p. 19. (tradução nossa)

[24] “Anti-Fascist Circus” “that it caused unrest and disturbed law and order” The Blackshirt. 25 de setembro de 1937. Apud. DURHAM, M. 1992. p. 521. (tradução nossa)

[25] “Subconsciously when I joined I may have felt I was making a stand for independence of thinking – even doing something daring and out-of-step.” Cartas de Louise Irvine para Julie Gottlieb, maio de 1996. Apud. GOTTLIEB, J. V., 2000. p. 7. (tradução nossa)

[26] WEBBER, G. C. Patterns of Membership and Support for the British Union of Fascists. In. Journal of Contemporary History. 1984. Apud. GOTTLIEB, J. V., 2000. p. 45.

[27]  GOTTLIEB, J. V. Appendix: Who’s Who in the History of Women and Fascism in Britain. In. Feminine Fascism: Women in Britain's Fascist Movement: 1923-1945. Londres: I. B. Tauris, 2000. pp. 276-348.

[28] “purge of the feminine from political behaviour” GOTTLIEB, J. V., 2000. p. 271. (tradução nossa)

 


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