Vá e veja…
A DEFESA DO MARXISMO E DA HISTÓRIA ENQUANTO CIÊNCIA: COMENTÁRIOS SOBRE O DEBATE METODOLÓGICO EM A COLUNA PRESTES DE ANITA LEOCÁDIA PRESTES
Clara Monteiro Schuartz
Mestranda em História Econômica - USP
A obra “A Coluna Prestes”, escrita pela historiadora Anita Leocádia Prestes, originalmente publicada em 1990 como resultado da Tese de Doutorado da autora, recebeu nova versão publicada pela Editora Boitempo em 2024, ano em que se completa o centenário da marcha da coluna (1924-1927). O livro, escrito pela historiadora e também filha de um personagem histórico central no movimento estudado, Luiz Carlos Prestes, foi relançado no Simpósio 100 anos da Revolução de 1924 e a Coluna Prestes, realizado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP em setembro de 2024. Na ocasião de lançamento da nova edição, Anita Prestes proferiu palestra que discorreu sobre as revisões historiográficas a respeito da coluna, a importância do movimento no contexto de desestabilização da 1º República na década de 1920, o papel de Luiz Carlos Prestes no movimento e a forma como o mesmo tem sido reavaliado em um contexto histórico que cada vez mais dá vazão ao anticomunismo e que tem, na figura de Prestes, um desses grandes símbolos da subversão brasileira. Foram muitas as temáticas debatidas por Anita Prestes em sua fala que poderiam se desdobrar em inúmeras discussões a respeito da obra. No entanto, um tema em especial chama a atenção, e ganha destaque logo na introdução do livro: a defesa do marxismo enquanto método de investigação e a disciplina histórica enquanto ciência. Discussão diretamente relacionada com o período de publicação do livro, os anos 1990, como tentarei abordar de forma breve ao longo do texto, Anita Prestes dedica-se a defesa do trabalho do historiador em seu caráter científico e não narrativo, elemento esse que foi trazido pela autora ao longo de sua fala na USP. Dedicarei-me então, nesse texto, não a realizar uma resenha da totalidade do livro de Prestes, mas sim a uma reflexão sobre seu debate metodológico à luz das transformações no campo da disciplina histórica que ganharam palco e destaque no Brasil entre 1980 e 1990.
Antes de me ater mais especificamente às defesas realizadas pela autora e o debate historiográfico no qual ela se insere, mesmo sem citar diretamente os autores com os quais antagoniza, é importante tecer breves comentários sobre o livro que nos ajudam a entender também a discussão metodológica realizada por Anita Prestes. A questão central do livro, e que aparece a todo momento em sua introdução, se relaciona com um fato bastante particular do trabalho da historiadora: a autora, filha de Luís Carlos Prestes, teve como uma das fontes principais de sua pesquisa historiográfica a coleta de depoimentos sobre a Coluna com seu pai, protagonista e narrador dos eventos ocorridos ao longo da década de 1920. Essa escolha se apresenta como um aspecto que propicia à autora, ao mesmo tempo que um desafio em termos da relação do pesquisador com seu objeto de análise, um olhar também bastante privilegiado para os processos estudados. Sobre este aspecto, vale a pena citar o comentário presente no Prefácio escrito por Maria Yedda Leite Linhares:
Na realidade, Anita conseguiu enveredar pelo difícil caminho da fonte oral - o herói invencível a relatar sua própria história - e saiu-se com rara felicidade dessa empreitada, demonstrando notável isenção como observadora do seu fato histórico e superando a ligação afetiva com aquele que era, ao mesmo tempo, o principal ator e fonte fundamental de seu relato. Eis o primeiro e não menos importante mérito do trabalho, isto é, não cair na armadilha de seu próprio método. Como filha, colocava-se a doutoranda na situação privilegiada de dispor da mais autorizada - e cobiçada- - fonte de informação para o trabalho que construía e, ao mesmo tempo, como historiadora era-lhe imprescindível despojar-se, na medida do possível, da carga emocional inerente ao seu tema.” (LINHARES apud PRESTES, p.13)
Meu objetivo com esse texto não é o de realizar um juízo de valor a respeito da proposta investigativa de Anita Prestes: se a autora foi capaz ou não de realizar uma análise objetiva do tema, se distanciando de sua ligação afetiva com o objeto de pesquisa, pouco importa para fins da discussão. A dificuldade e a potencialidade da escolha da autora são pontos evidenciados e tratados no prefácio de Linhares. O que é interessante nos atentarmos é a forma como, diante de um determinado contexto de debate dentro da disciplina que também é passível de historicização, Anita Prestes defende uma determinada visão sobre o trabalho do historiador. Diante do problema colocado por sua pesquisa, quais os referenciais teóricos mobilizados por Prestes? Qual a sua visão sobre o papel do historiador e a influência dos elementos subjetivos no processo de pesquisa? Qual o lugar conferido por ela às análises históricas? Essas são algumas das questões que pretendo, se não responder, ao menos pautar ao longo da presente discussão.
Antes de passar para a contextualização do debate, acredito que seja importante abordar, brevemente, a estrutura argumentativa da introdução. A mesma é dividida em cinco seções: Algumas observações sobre a historiografia relacionada com o tema da Coluna Prestes; O marxismo enquanto método de análise histórica; O papel do indivíduo na História e a nossa pesquisa; A História Oral como técnica de pesquisa; O nosso trabalho com Luiz Carlos Prestes e os seus depoimentos. Os títulos das seções já nos antecipam os debates que serão realizados e suas relações com o contexto historiográfico dos anos 1990: as revisões sobre o marxismo, papel da experiência individual na história, e novos métodos de pesquisa (como a introdução da História Oral nos trabalhos historiográficos) são elementos marcantes, como veremos, desse período, elementos caros à Anita Prestes e que são vistos de forma bastante particular pela autora.
Passamos, nesse sentido, para uma contextualização do debate que se travava em termos historiográficos na década de 1990 no Brasil. As modificações que ocorrem na disciplina histórica no período supracitado, ou seja, a partir dos anos 1980, em especial no universo da história do trabalho, da historiografia sobre a escravidão e a história da cultura, se dão por uma disputa entre tendências acadêmicas a partir da introdução de novos referenciais teóricos ao palco das análises: em especial figuras como E.P Thompson, Raymond Williams e o próprio Michel Foucault. A influência dessas produções ganha palco no Brasil com a proliferação da chamada História da Cultura ou História Social da Cultura, campos que já existiam mas que passam a ganhar força e novos contornos. Os recortes e olhares mais “econômicos” para a história, bastante característicos dos anos 1960 e 1970, passam a ser duramente criticados por uma perspectiva que busca olhar menos para a estrutura e mais para a superestrutura, para o papel dos indivíduos na história, a subjetividade e a atuação dos grupos chamados de “subalternos”. É nesse contexto que, como veremos mais à frente, se proliferam intensas críticas ao marxismo como método de análise e a própria ideia da história enquanto ciência. Ganham espaço novos sujeitos no universo de pesquisa, novas fontes (com destaque para a História Oral), novos autores e novos paradigmas.
Em relação a esse debate, Emília Viotti da Costa publica, no ano de 1994 o texto A dialética invertida: 1960 - 1990. Publicado quatro anos após o lançamento do livro de Anita Prestes, o texto de Viotti dimensiona o tamanho da disputa entre essas novas vertentes no contexto da historiografia brasileira: os anos 1980 e 1990 pautam esse debate, muitas vezes na lógica de um embate supostamente dual entre as “novas” e “velhas” tendências da historiografia brasileira, especialmente no campo da historiografia do trabalho e sobre a escravidão no país.
A historiografia contemporânea revela uma preocupação crescente com problemas epistemológicos, com o discurso do próprio historiador. Essa tendência também não é nova. Em 1956, numa conferência pronunciada nos Estados Unidos, na universidade de Johns Hopkins, Derrida afirmava: “precisamos interpretar a interpretação mais do que interpretar as coisas”. Seu apelo encontraria um grande número de seguidores que se ocuparam mais em discutir os limites da consciência histórica, do que a própria história que, dessa forma, ficou cada vez mais inacessível. O questionamento das categorias explicativas utilizadas pelo historiador levou a uma obsessiva indagação sobre a validade de se aplicar nossas categorias a outros espaços, outros tempos, outras culturas. (...) As dúvidas se multiplicam. Aqui também e mais uma vez, o que pode ser uma reflexão salutar sobre as distorções que o viés do historiador impõe à construção da história, pode também facilmente levar a total negação da sua possibilidade. Estamos longe evidentemente, das muitas certezas que caracterizavam os anos 1960.” (VIOTTI, 1994, pp.17-18, grifo meu)
A preocupação com o discurso é elemento que se destaca nas renovações historiográficas dos anos 1980. A história, cada vez menos encarada como disciplina que busca, por meio da investigação, alcançar a objetividade dos fatos, ganha cada vez mais lugar de narrativa, na visão de determinadas tendências de análise. A indagação sobre a validade das categorias explicativas, mencionadas por Viotti, são exemplo da forma como os paradigmas metodológicos passam por intensos questionamentos no final do século XX e, nessa discussão, o papel da subjetividade do pesquisador ganha um lugar de destaque.
É envolta nessa discussão que Anita Prestes sistematiza, ainda no início da Introdução, os preceitos que considera inerentes ao trabalho do historiador. Referenciando Ciro Flamarion Cardoso e Pierre Vilar, a autora defende sua vinculação com o materialismo histórico e o que caracteriza como “a união dos enfoques genérico e estrutural”.
A nosso ver, é importante considerar um aspecto sublinhado por esse autor [Ciro Flamarion S. Cardoso]: a união dos enfoques genérico e estrutural no que ele denomina uma “visão realmente integrada do desenvolvimento histórico-social, segundo certos princípios que podem ser traduzidos em normas metodológicas para a pesquisa”. Esses princípios seriam os seguintes:
- a realidade social em mutação em todos os níveis;
- a mudança social está submetida a leis cognoscíveis;
- a mudança social conduz a equilíbrios relativos (instáveis, contraditórios) que configuram um sistema de formas e relações recíprocas (estruturas) entre elementos do social, com vigência por períodos às vezes longos, e regido por leis específicas;
- as leis da mudança explicam também as transições de uma ordem estrutural a outra. Assim, o materialismo histórico reconhece tanto leis dinâmicas como leis estruturais. (PRESTES, 2024, p.28)
A disputa entre essas tendências aparece de forma mais e menos explícita na introdução escrita por Anita Prestes. No entanto, é em uma de suas passagens no debate sobre a historiografia a respeito de 1930, que a autora pauta um diálogo direto com Edgar De Decca, historiador importante da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), palco central das renovações historiográficas pautadas em 1980 e 1990. Prestes estabelece diálogo direto com a obra de De Decca, mais especificamente o livro 1930: O Silêncio dos vencidos[1] publicado originalmente em 1981.
Considerando ainda a historiografia sobre a “Revolução de 1930”, deve-se mencionar uma corrente interpretativa representada por autores que trabalham na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), como Edgar De Decca e Ítalo Tronca, para os quais o proletariado e o movimento popular teriam tido uma participação importante no movimento de 1930. Tais autores não chegam, entretanto, a apresentar elementos convincentes para comprovar suas teses, que, na realidade, entram em flagrante conflito com tudo que se conhece a respeito da real correlação de forças sociais no final dos anos 1920 no Brasil e, particularmente, da participação limitada da classe operária no movimento de 1930. A visão dos acontecimentos de 1930 como um suposto golpe preventivo da burguesia contra o movimento operário, que constituiria uma série ameaça à dominação burguesa, não se sustenta diante da evidência dos fatos. Os autores de Campinas têm o objetivo de criticar a estratégia do PCB e a sua política nos anos 1920, mas o subjetivismo a que são levados em suas interpretações termina por invalidar seus intentos críticos. (PRESTES, 2024, p.27)
Destaco aqui o trecho final do texto reproduzido, na qual Prestes, além de se contrapor especificamente à De Decca, estabelece uma oposição com os “autores de Campinas”, representativos, em certo sentido, desses novos horizontes metodológicos que se destacam na historiografia brasileira nos anos 1990. A autora traz à tona a disputa evidenciada por Viotti e passa, ao longo da introdução, a defender o seu posicionamento teórico e metodológico. Anita Prestes irá abordar, então, temáticas importantes para a reflexão desses mesmos debates historiográficos travados entre 1980 e 1990, mais especificamente a questão do papel do indivíduo na história e a História Oral enquanto método. Para isso, a autora irá mobilizar autores como Pierre Vilar, Ciro Flamarion Cardoso e E. H. Carr.
É fato então que a historiografia brasileira vive, nos anos 1990, um contexto de disputa entre “novas” e “velhas” tendências, que giram em torno de temáticas como o papel dos indivíduos na história, da subjetividade do historiador, da memória, entre outros aspectos que são tocados por Anita Prestes. Diante de todo esse contexto, no entanto, um elemento se destaca no debate de Prestes: a defesa do marxismo e a defesa da história enquanto método científico. Nesse sentido, é importante pontuar que as chamadas novas tendências historiográficas dos anos 1980 e 1990 não são, nem de longe, homogêneas. Dentre as renovações no campo, introdução de novos autores, se encontram vertentes que se distinguem, principalmente no que diz respeito ao debate que se dá no campo da historiografia da escravidão e da história do trabalho, extremamente influenciados pela produção inglesa de E.P Thompson, Raymond Williams, dentre outros autores, e a historiografia que se debruça sobre os estudos da cultura, que tem como principal referência a obra de Michel Foucault. Me parece que Anita Prestes, mais do que se contrapor à historiografia de inspiração inglesa, bate de frente com essas tendências ligadas a tradição dos estudos culturais, que pautam o debate central de seu debate metodológico: a disputa entre a história enquanto narrativa ou ciência e a relevância do marxismo enquanto método de análise histórica.
A disputa travada por Anita Prestes fica clara quando analisamos, para além de seu debate direto com a produção de Edgar De Decca, as discussões apresentadas por Margareth Rago ainda nos anos 1990. Rago caracteriza a virada historiográfica dos anos 1980 como um momento de esgotamento do marxismo enquanto modelo de interpretação do passado (RAGO, 1999, p.76) e, para além disso, pauta outro ponto essencial da discussão de Prestes: a história enquanto análise discursiva, narrativa, e não enquanto ciência em busca da reconstrução da realidade objetiva.
Desde então, não podemos mais falar em totalidade histórica, em “realidade objetiva”, em determinações fundamentais da infra-estrutura econômica sobre tudo o mais desavisadamente, nem podemos deixar de pensar diferentemente o documento. Nesse momento, nos damos conta de que o historiador trabalha primeiramente com a produção dos discursos, com interpretações, com máscaras sobre máscaras e que a busca da objetividade e de uma suposta essência natural é mais uma ilusão antropológica. Não mais fatos, não mais os objetos e os sujeitos no ponto de partida, mas os discursos e as práticas instituintes produtores de real, como afirma Paul Veyne” (RAGO, 1999, p.79)
Trata-se, para Rago, de uma mudança substancial no papel do historiador e nos objetivos da disciplina. Não mais focada na busca pela verdade histórica, a história se dedicaria, a partir de então, ao estudo sobre as interpretações e discursos a respeito do passado, como fica nítido em sua referência a obra de Paul Veyne.
É justamente contra essa perspectiva que Anita Prestes bate de frente em sua introdução, defendendo, por meio da seção “O marxismo como método de análise histórica”, o caráter científico da disciplina. Essa defesa associada com a da importância do marxismo para Prestes aparecem em dois trechos selecionados que reproduzo abaixo: o primeiro deles presente na introdução do livro aqui resenhado e o segundo parte de um texto publicado em 1985 pela autora, durante seu doutorado, de título A Coluna Prestes: uma proposta de trabalho.
A História como ciência em construção; a História, numa concepção marxista, que combina enfoques genético e estrutural; a História como movimento, como mudança, para a compreensão de cuja dinâmica é necessário estudar as estruturas e conjunturas em sua interligação - eis alguns aspectos de uma concepção global, que nos serviu de ponto de partida em nosso trabalho de pesquisa e de escrita da história da Coluna Prestes. (PRESTES, 2024, p.30)
Para tentar entender esses processos e chegar a escrever uma história da Coluna Prestes, a metodologia marxista é, a nosso ver, o único instrumental válido. Como é destacado por Pierre Vilar, é preciso chegar a uma "história da sociedade em movimento", ou seja, a uma história síntese, que, em última instância, deve integrar os resultados de todas as pesquisas efetuadas em todos os domínios, reunindo-as, como diz Georges Duby, “na unidade de uma visão global” (PRESTES, 1985, pp.53-54)
Escritos em diferentes contextos, o primeiro em 1990 após a conclusão de sua pesquisa de doutorado e o segundo em 1985, durante o processo de pesquisa de Prestes, ambos os trechos reproduzidos explicitam a forma como Anita Prestes se coloca em meio às discussões, travadas no campo da disciplina histórica, a respeito do marxismo e da objetividade do trabalho do historiador. Utilizando Pierre Vilar como referência, autor esse que aparece de forma intensa na introdução aqui resenhada, Prestes afirma o papel das sínteses e totalizações no trabalho do historiador. O objetivo de seu trabalho, portanto, não é apresentar uma narrativa sobre a Coluna Prestes baseada nas memórias de sua principal liderança, mas sim construir uma investigação objetiva acerca desse movimento que integre as análises históricas sobre as décadas de 1920 e 1930.
O que podemos depreender dessa incipiente análise é, em primeiro lugar, a importância de historicizar os debates a respeito das disputas travadas dentro do campo da historiografia. Ao situarmos historicamente a publicação do livro de Anita Prestes, em diálogo com os balanços historiográficos realizados nos anos 1990, é possível entender razões por trás do debate metodológico realizado em sua introdução: a necessidade de pontuar as distâncias e aproximações de seu objeto de análise, a sustentação e defesa do método marxista de investigação historiográfica, tudo isso dialoga com um contexto de produção no qual o marxismo sofre intensas críticas e a história enquanto ciência, método que busca uma objetividade na investigação sobre o passado, passam por questionamentos.
Ao defender de forma veemente a História enquanto ciência, Prestes enfatiza um distanciamento entre seu objeto de pesquisa: apesar de coletar depoimentos com seu pai e investigar um período que possui relação direta com sua atuação, a autora sustenta sua pesquisa enquanto um trabalho historiográfico e científico, e não “memorialístico”. A busca pela defesa de seu trabalho enquanto uma análise histórica de caráter objetivo aparece nas discussões mobilizadas pela autora: a História Oral como técnica de pesquisa e não como “gênero”, o papel do indivíduo na história por meio da perspectiva marxista[2], a relação entre as estruturas e os acontecimentos, entre outros.
A defesa dessa história como ciência, que busca a objetividade dos fatos, encara procedimentos como a História Oral como método/recurso de pesquisa e subordina a ação do indivíduo a fenômenos estruturais que se distanciaria das tendências vigentes no campo das análises sobre o próprio tenentismo produzidas entre 1980 e 1990. É na ênfase desses preceitos que Anita Prestes marca um posicionamento diante das disputas disciplinares que se dão no período, posicionamento esse que torna seu livro um ponto de partida interessante para pensarmos esse debate e o que a historiografia, em 2024, ainda tem a aprender com essas discussões.
Bibliografia
COSTA, Emília Viotti da. A dialética invertida: 1960-1990. Revista Brasileira de História, v. 14, n. 27, p. 9-26, 1994.
PRESTES, Anita Leocádia. A Coluna Prestes. São Paulo: Boitempo, 2024. 1ª ed.
PRESTES, Anita Leocádia. A Coluna Prestes: uma proposta de trabalho. Revista de História, São Paulo, n. 118, p. 29–59, 1985
RAGO, Margareth. A" nova" historiografia brasileira. Anos 90, v. 7, n. 11, p. 73-96, 1999.
[1] O livro 1930: O Silêncio dos Vencidos aborda, entre outras questões, o discurso produzido a respeito da Revolução de 1930 pela historiografia brasileira e os silenciamentos produzidos por uma determinada memória histórica construída acerca do evento. Obra polêmica, mas paradigmática no campo, é bastante importante para aproximações das discussões a respeito de 1930 em si quanto sobre essas novas tendências disciplinares que ganham palco fortemente no departamento de História da UNICAMP, mencionado diretamente por Anita Prestes.
[2] Ao abordar essa discussão em sua introdução, Prestes define sua concepção sobre o papel do indivíduo na história enquanto subordinado às condições concretas do seu contexto de atuação. Ao falar sobre a consciência dos membros da coluna no contexto da marcha, a autora traz afirmação sintética de seu posicionamento a respeito da relação entre a experiência do indivíduo e o movimento histórico: “Em nossa pesquisa, verificamos que Prestes e os demais comandantes da Coluna não tiveram, naquela época, a consciência do papel que desempenhavam, sendo efetivamente “empurrados” pelas contingências históricas; Seu papel destacado na História do país decorria de uma situação concreta, de uma necessidade histórica, que levou a que fosse depositada em seus ombros a missão de liderança do movimento social então em curso.” (PRESTES, 2024, p.31)
Comitê de Redação: Adriana Marinho, Clara Schuartz, Gilda Walther de Almeida Prado, Giovanna Herrera, Marcela Proença, Rosa Rosa Gomes.
Conselho Consultivo: Carlos Quadros, Dálete Fernandes, Felipe Lacerda, Fernando Ferreira, Frederico Bartz, Lincoln Secco, Marisa Deaecto, Osvaldo Coggiola, Patrícia Valim.
Publicação do GMARX (Grupo de Estudos de História e Economia Política) / FFLCH-USP
Endereço: Avenida Professor Lineu Prestes, 338, Sala H4. São Paulo/SP. CEP: 05508-000
E-mail: maboletim@usp.br